Como usar os indicadores RSI e MACDO RSI (Relative Strength Index) e o MACD (Moving Average Convergence Divergence) são dois indicadores utilizados na Análise Técnica de gráficos, que têm por base fórmulas que ajudam os investidores a prever uma futura tendência do preço de um dado instrumento financeiro.
O RSI (Relative Strength Index) ou índice de força relativa, é um indicador técnico utilizado para avaliar condições de mercado em que o preço de um determinado ativo se encontre em sobrecompra ou sobrevenda.
Este indicador é exibido como um gráfico de linhas compreendido entre os valores de 0 a 100 sendo que, normalmente, uma leitura abaixo do nível 30 indica uma condição de sobrevenda e uma leitura acima do nível de 70 indica que um ativo está em sobrecompra.
Existem várias formas de interpretar este indicador sendo que, umas das que é provavelmente mais utilizada é, por um lado, a de considerar um sinal de compra sempre que (tendo o RSI descido abaixo do nível 30) o mesmo volte a cruzar este valor numa tendência ascendente e, por outro lado, a de considerar um sinal de venda sempre que (tendo o RSI ultrapassado o valor de 70) este volte a cruzar este valor numa tendência descendente.
Outra interpretação do indicador, poderá ser através de uma divergência, em que o preço se encontre numa tendência descendente, enquanto que a linha do indicador RSI mostra uma tendência ascendente.
Este indicador também poderá indicar divergências, ou seja, é observada uma tendência descendente no preço do ativo, enquanto que a linha do indicador mostra uma tendência ascendente, o que poderá indicar que o preço irá reverter a sua direção.
MACD (Moving Average Convergence Divergence) é outro indicador bastante utilizado pelos investidores e é determinado subtraindo a média móvel exponencial de 26 dias (linha MACD) à média móvel exponencial de 12 dias, resultando na média móvel exponencial de 9 dias do próprio MACD (denominada também de linha de sinal).
Este indicador tem então como propósito identificar momentos importantes resultantes da convergência e divergência destas médias móveis e que poderá ter várias interpretações.
A interpretação possivelmente mais utilizada é através de cruzamentos, ou seja, sempre que a linha de MACD cruze em sentido ascendente a sua linha de sinal, então um sinal de compra é fornecido, por outro lado, sempre que aconteça o oposto, um sinal de venda é indicado.
Outro método, seria através de divergências, que ocorrem sempre que o próprio comportamento do MACD diverge do preço do ativo subjacente. Ou seja, isto acontece quando, por exemplo, o MACD realiza sucessivos mínimos e o valor do ativo em causa continua numa tendência ascendente. Quando isto acontece, poderá vir a ocorrer uma inversão do sentido do preço do ativo que, neste caso em concreto, poderá ser interpretado como um sinal de venda. O inverso é também válido, no entanto neste caso, o resultado desta análise poderá ser interpretado como um sinal de compra.
Ambos os indicadores fornecem sinais da dinâmica do mercado, no entanto, avaliam fatores diferenciados, que, por vezes, até podem dar sinais contraditórios. É por essa razão que se deve ter sempre em conta o contexto de mercado e saber analisar qual a tendência principal do ativo em causa, para minimizar a interpretação de falsos sinais. Em suma, para maximizar os ganhos no mercado e potencializar a taxa de acerto, é essencial uma boa conjugação da Análise Técnica com Análise Fundamental e com o apoio de alguns indicadores.
Teletrade
Dívida não é sinónimo de austeridadeDurante esta crise, a maioria dos países desenvolvidos recorreram a alguma forma de estímulo fiscal para combater a recessão. Aliada à forte queda das receitas e a uma contração económica sem precedentes, a dívida pública de praticamente todos os países acabou por crescer substancialmente.
Em Portugal, o peso da dívida pública face ao PIB subiu para 130% no terceiro trimestre, mais 3,9 pontos percentuais do que no segundo trimestre – este é o rácio mais elevado desde o terceiro trimestre de 2017, quando o mesmo atingiu os 131,3% do PIB. Também a nível europeu, Portugal continua a registar a terceira maior dívida da União Europeia em relação ao PIB, com a Grécia a liderar e Itália na segunda posição. No entanto, a sustentabilidade da dívida em nada depende do seu valor absoluto, mas sim da sua trajetória. Por isso, antes de se apontar a necessidade de medidas de austeridade, é imperativo compreender o que torna uma dívida sustentável.
De uma forma sucinta, essa sustentabilidade é influenciada por dois fatores: desempenho das contas públicas (diferença entre as receitas e custos do estado – excluindo os juros pagos pela dívida – em percentagem do PIB) e a diferença entre a taxa de juro real paga pela dívida e a taxa de crescimento do PIB real. No entanto, no longo-prazo é mais determinante o segundo ponto uma vez que se o crescimento da economia for superior aos juros pagos pela dívida, esta contribui não só para a diminuição do valor da dívida relativamente ao PIB, como também leva ao maior valor nominal do PIB, levando consequentemente a uma diminuição de um possível deficit das contas públicas (uma vez que este está também em percentagem do PIB). Isto levou Olivier Blanchard (2019) a referir que perante uma situação destas pode-se e deve-se “empurrar a dívida” para a frente, pagando a dívida existente emitindo nova dívida, mas diminui-la como consequência do crescimento económico – assim seria possível reduzir o tamanho da dívida relativamente ao PIB sem nunca se precisar de aumentar impostos. O ex economista-chefe do FMI, refere ainda que uma taxa de crescimento real do PIB superior à taxa de juro real paga pela dívida “é historicamente uma regra e não uma exceção” (salvo raras situações).
Muitas organizações e economistas também concordam. Em concreto, o Fundo Monetário Internacional (FMI) – que historicamente tem sido um forte defensor da contenção e responsabilidade fiscal – recomenda que a austeridade não deve ser utilizada e que poderá ser contraproducente. Como disse um funcionário do FMI, “o rácio da dívida pública nas nossas projeções estabiliza e até diminui ligeiramente no final, o que mostra que o COVID-19 é um salto pontual da dívida e, com as baixas taxas de juro, a dinâmica da dívida estabiliza.”
Assim, não há necessidade de uma política de austeridade que implique a consolidação da dívida através de impostos mais elevados e de redução da despesa. Isso, por sua vez, pode ter efeitos negativos no crescimento. Para além disso, o FMI preocupa-se com o facto de os estímulos orçamentais poderem ser retirados demasiado cedo, sufocando assim a atual recuperação. Mas o FMI não está sozinho nesta avaliação. O Banco Mundial, a OCDE, os principais bancos centrais e conhecidos académicos já manifestaram também um sentimento semelhante.
As reformas estruturais que se deve procurar ter é a nível económico e não orçamental, e não o fazer seria ir contra as recomendações que nos são feitas. Existe um consenso quanto ao facto de que o foco da política deve ser a criação de um crescimento mais forte da produtividade, com o objetivo de melhorar os padrões de vida de cada país. Isto poderá implicar mais investimento público em infraestruturas, especialmente em infraestruturas digitais e verdes; mais investimento em capital humano para que a mão de obra possa estar melhor preparada para a transição entre diferentes tipos de empregos; liberalização de fluxos comerciais e de capitais para que a economia possa obter os benefícios da eficiência do comércio; ou um melhor quadro regulamentar para a implementação de novas tecnologias. O fundo de recuperação europeu poderá ser utlizado com este propósito e com a economia a crescer é uma questão de tempo até se chegar a uma maior estabilidade das finanças públicas. Quando isso acontecer, a própria economia estará também mais próxima do seu potencial e poderá começar a crescer de forma menos acentuada, sendo só aí necessário, a mesma consolidação fiscal que tivemos nos últimos anos.
A economia da vacinaNa semana passada, a Pfizer e a BioNTech anunciaram que o seu teste a uma potencial vacina de combate à pandemia tinha uma eficácia de 90%.
Vivendo os mercados de expectativas futuras, os preços das ações acabaram por disparar, especialmente as da Pfizer, mas também em alguns setores específicos como as companhias aéreas, cadeias hoteleiras e aeroespaciais. Por outro lado, empresas tecnológicas acabaram por perder força à medida que se espera uma diminuição da necessidade desse tipo de serviços com as medidas de confinamento a serem reduzidas. Os rendimentos das obrigações também aumentaram com as expectativas de que o crescimento económico e a inflação pudessem acelerar mais cedo do que o previsto.
Entretanto, mesmo que esta e outras vacinas se revelem bem-sucedidas ainda antes do final deste ano, levará tempo para a produzir em massa, distribuir e entregar. Haverá questões sobre quem obtém o vírus primeiro, tanto por idade, fator de risco, rendimento, etnia e geografia. Ainda há muito trabalho a fazer antes de podermos voltar à normalidade.
Possível impacto económico da vacina
As reações do mercado de capitais sugerem uma resposta ao possível impacto da vacina na economia. O crescimento das ações das companhias aéreas poderá indicar que os investidores esperam que as pessoas voltem a ter alguma interação social. Se isso acontecer, poderemos assistir a um aumento da procura de serviços virados para os consumidores, como restaurantes, entretenimento, viagens e lojas de retalho. Isto seria seguido por um aumento do emprego nestas indústrias que estão atualmente a funcionar muito abaixo da sua capacidade. Como consequência disso, existiria uma aceleração temporária do crescimento económico à medida que as grandes economias regressariam aos níveis de atividade pré-crise.
Diversos economistas mostraram também a sua satisfação pelo possível aparecimento da vacina. Paul Dales, economista do Reino Unido na Capital Economics, referiu que uma vacina "melhoraria drasticamente as perspetivas económicas". Também a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, mencionou a importância de como uma forte cooperação internacional em torno da vacina poderia acelerar a recuperação económica mundial referindo que isso adicionaria 9 biliões de dólares ao rendimento global até 2025.
No entanto, são cada vez mais os apelos para que esta possível descoberta não faça parar os estímulos fiscais em curso nem aqueles que estão planeados. Kristalina Georgieva foi uma dessas pessoas, que referiu que os estímulos fiscais dos EUA desde o início do ano "deram um impulso muito positivo e que seria importante de o ver novamente". Jerome Powell, governador da Reserva Federal norte-americana, também referiu toda a incerteza ainda presente e que "continuará a ser necessário um enorme apoio do governo".
A descoberta da vacina pode marcar o início do fim da pandemia, mas o legado económico deste vírus poderá prolongar-se ainda mais.
O mercado de crédito e o limite da política monetáriaÀ medida que a segunda vaga do vírus se vai alastrando e podendo eventualmente conduzir a um novo abrandamento da atividade económica, os participantes no mercado de crédito europeu vão dando alguns sinais da sua preocupação.
O último inquérito aos bancos comerciais realizado pelo banco central europeu (BCE) indica que se procedeu a um agravamento significativo das exigências de crédito neste terceiro trimestre. Aparentemente, a sua principal causa é a perceção do risco por parte dos bancos relativamente ao futuro estado da economia e não propriamente como consequência da sua própria condição financeira. Os bancos estão, acima de tudo, preocupados com a capacidade dos agentes económicos fazerem face aos seus empréstimos caso a recuperação económica sofra um revés. O BCE informa que a taxa de rejeição de pedidos de empréstimo aumentou tanto para as empresas como para as famílias, e que o volume de créditos bancários malparados pode até triplicar num cenário pessimista.
A reação das empresas e das famílias
No entanto, não é só a oferta a não querer emprestar, mas também o lado da procura – e em especial, as empresas – a não ter interesse em pedir emprestado. Isto deve-se essencialmente ao seu fraco investimento bem como à diminuição das necessidades de liquidez. Segundo o inquérito, cada vez mais empresas estão satisfeitas com as suas posições em caixa e por isso também menos preocupadas com possíveis ameaças.
Do lado das famílias, o BCE também encontrou um agravamento da solvabilidade das famílias como consequência da crise. Apesar disso, ainda se registou um aumento da procura de crédito no terceiro trimestre. Esse aumento poderá ter sido, por ventura limitado, uma vez que o BCE espera que a procura enfraqueça no quarto trimestre, à medida que as condições de crédito se tornam ainda mais apertadas e as condições do mercado de trabalho se detoram.
A realidade é que as posições tanto por parte dos bancos como dos agentes económicos, dificultam a ação do BCE. Existe, no fundo, um limite para aquilo que a política monetária pode fazer.
Os depósitos bancários das famílias aumentaram ao ritmo mais rápido em 12 anos, sinalizando que aumentar a base monetária pouco faz se o dinheiro ficar no banco. A ação política mais relevante seria a de optar por um maior estímulo orçamental – tal como a liderança do BCE, Fundo Monetário Internacional e OCDE assim recomendaram. Até certo ponto isto até está a acontecer. Alguns governos da Zona Euro decidiram estender os seus subsídios ao mercado de trabalho para além do final deste ano. E já não há de faltar muito para que o orçamento do fundo de recuperação europeu chegue então aos cofres dos Estados Membros.
A dívida é o menor dos nossos problemasDurante esta crise, a maioria dos países desenvolvidos recorreram a alguma forma de estímulo fiscal para combater a recessão. Aliada à forte queda das receitas e a uma contração económica sem precedentes, a dívida pública de praticamente todos os países acabou por crescer substancialmente.
A realidade é que é muito pouco provável que este aumento ponha em causa a sustentabilidade das dívidas que apenas depende de taxas de crescimento económico acima do juro que se paga por esses empréstimos – assim a sua trajetória de longo-prazo é então de uma queda do valor da dívida em percentagem do produto interno bruto (PIB). Muitas organizações e economistas também concordam. Em concreto, o Fundo Monetário Internacional (FMI) – que historicamente tem sido um forte defensor da contenção e responsabilidade fiscal – recomenda que a austeridade não deve ser utilizada e que poderá ser contraproducente. Como disse um funcionário do FMI, “o rácio da dívida pública nas nossas projeções estabiliza e até diminui ligeiramente no final, o que mostra que o COVID-19 é um salto pontual da dívida e, com as baixas taxas de juro, a dinâmica da dívida estabiliza.”
Assim, não há necessidade de uma política de austeridade que implique a consolidação da dívida através de impostos mais elevados e de redução da despesa. Isso, por sua vez, pode ter efeitos negativos no crescimento. Para além disso, o FMI preocupa-se com o facto de os estímulos orçamentais poderem ser retirados demasiado cedo, sufocando assim a atual recuperação. Mas o FMI não está sozinho nesta avaliação. O Banco Mundial, a OCDE, os principais bancos centrais e conhecidos académicos já manifestaram também um sentimento semelhante. Jason Furman, do Peterson Institute, nota que, apesar de um aumento acentuado da dívida, os pagamentos do serviço da dívida em percentagem do PIB não aumentaram nos países mais ricos durante esta crise devido às taxas de juro muito baixas. As previsões sugerem ainda que os custos da dívida continuarão historicamente baixos, apesar de um nível de dívida invulgarmente elevado.
No que se refere à política, existe um crescente consenso entre instituições internacionais de que é necessário um maior estímulo económico e que, a longo prazo, não será necessário recorrer-se a políticas de austeridade. Estas políticas foram destrutivas para o crescimento económico na Europa há uma década. Pelo contrário, existe também um consenso quanto ao facto de que o foco da política deve ser a criação de um crescimento mais forte da produtividade, a fim de impulsionar os padrões de vida de cada país. Isto poderá implicar mais investimento público em infraestruturas, especialmente em infraestruturas digitais e verdes; mais investimento em capital humano para que a mão de obra possa estar melhor preparada para a transição entre diferentes tipos de empregos; liberalização de fluxos comerciais e de capitais para que a economia possa obter os benefícios da eficiência do comércio; e um melhor quadro regulamentar para a implementação de novas tecnologias. No entanto, não é claro que líderes políticos aceitem esta agenda. Em vários países, subsiste o apoio ao protecionismo e à austeridade.
A Europa da segunda vagaO recente ressurgimento do vírus em algumas partes da Europa está, como seria de esperar, a afetar a economia e em especial o sector dos serviços. O último PMI de serviços na zona euro caiu acentuadamente em setembro, o que indica uma queda da sua atividade. Estes indicadores orientados para o futuro estão destinados a sinalizar a direção da atividade do setor em avaliação. A fraqueza dos serviços reflete provavelmente o facto de, devido à revitalização do vírus em alguns locais (especialmente em Espanha e França), muitos consumidores estarem cada vez mais a evitar a interação social, diminuindo consequentemente os gastos nesse setor. A maior queda do desemprego europeu veio precisamente das suas indústrias de serviços.
Por outro lado, nem tudo são más notícias e a União Europeia (UE) informou que a confiança dos consumidores na região aumentou em setembro, apesar do aumento dos casos. A robustez do setor de manufatura indica também o crescimento da procura global das exportações da zona euro, bem como a procura interna de bens duradouros.
Surto de vírus na Europa e seu impacto económico
O número de novos casos tem vindo a aumentar rapidamente em Espanha e França desde o final de julho, enquanto a Alemanha e a Itália registaram apenas um modesto aumento durante esse período. Esse incremento está a pesar sobre a atividade económica, como mostram os recém-lançados PMI europeus para o setor dos serviços. No entanto, a relação entre esta medida de atividade económica e o número de casos confirmados mudou desde a primavera, onde a segunda vaga de casos em Espanha e França provocou uma contração proporcionalmente menor na atividade económica do que a primeira vaga.
Daqui para a frente, o caminho da zona euro como das economias do mundo dependerão fortemente da trajetória do vírus, bem como das respostas da política orçamental de vários governos europeus. O Governo alemão já alargou os estímulos e o Banco Central Europeu informou que o aumento da poupança dos consumidores nos últimos meses na zona euro se deveu principalmente à falta de oportunidades de gastos. Isto sugere que muitos consumidores têm muito dinheiro e muita procura pendente. Isto é um bom presságio para um relançamento dos gastos, uma vez que os consumidores estão menos preocupados com o vírus.
Apesar de uma reação negativa mais fraca a esta segunda vaga de infeções na Europa, o aumento dos casos está a conter uma recuperação mais acelerada da Europa. À medida que o tempo fica mais frio, as atividades económicas que foram conduzidas ao ar livre durante o verão tornar-se-ão consideravelmente mais arriscadas, uma vez que terão de ser transferidas para dentro.
A importância do subsídio de desemprego para a economiaNuma altura em que democratas e republicanos estiveram em conflito durante o fim de semana sobre o novo pacote de estímulos à economia, importa abordar aqui o tema principal que tem estado em discussão – a extensão dos subsídios de desemprego que expiraram na sexta-feira passada.
Benefícios e limitações desta medida (aplicada aos Estados Unidos)
A grande vantagem do subsídio de desemprego tem que ver essencialmente com o efeito do benefício na procura agregada uma vez que apoia o aumento do consumo e, portanto, a atividade económica global. Esta medida tem diversos benefícios macroeconómicos que ajudam a limitar a gravidade de uma recessão apoiando também empregos e rendimentos de milhões de trabalhadores e empresas que não receberam diretamente quaisquer benefícios. Nesta crise em específico, o subsídio de desemprego representou 6,4% do rendimento pessoal disponível no mês de maio, superando largamente o seu pico pré-epidémico de 1,5%. O efeito multiplicador (impacto da medida em variáveis endógenas) é muito alto, uma vez que dá dinheiro às pessoas quando os seus rendimentos são temporariamente baixos, ajudando-as a suavizar o seu consumo e, assim, impulsionando o consumo total.
A existência deste estabilizador automático (que entra em vigor quase de forma mecânica quando uma pessoa se torna desempregada) protege e tem protegido efetivamente a maioria dos trabalhadores de grandes perdas de rendimento. Na sua ausência, o agregado familiar que tenha experienciado ter uma pessoa desempregada tipicamente reduz o gasto em alimentos em 22% em vez da queda de 7% geralmente observada (Gruber 1997). Ganong e Noel (2019) referem também que a propensão marginal para consumir serviços e bens não duradouros é de 0,27 na ausência do subsídio e de 0,83 na presença do mesmo.
O lado da oferta da economia também é afetado através da mão de obra existente, com efeitos ambos positivos e negativos.
O subsídio de desemprego pode ajudar a oferta de mão de obra uma vez que mantém as pessoas ligadas ao mercado laboral. Aqueles que se encontram ao abrigo do subsídio de desemprego tipicamente têm de estar ativamente à procura de trabalho. Já aquele desemprego que não usufrui deste benefício pode deixar de pertencer à força de trabalho, tornando o mercado laboral mais rígido dificultando assim o encontro entre entidades empregadoras e trabalhadores.
Por outro lado, contra os benefícios da medida está o facto do subsídio poder desencorajar a procura por trabalho. Vários estudos demonstram que existe um pico nas saídas daqueles que gozam do subsídio de desemprego quando os mesmos benefícios se esgotam (Moffit 1985, Katz e Meyer 1990, Feldstein 2005). Parte deste pico é o resultado de pessoas desistirem de procurar emprego passando assim de desempregados para fora do mercado de trabalho (Card, Chetty, e Weber 2007). No entanto, a mais recente e melhor evidência dos Estados Unidos, de Ganong e Noel (2019), mostra que o último mês em que os trabalhadores têm direito ao benefício é precisamente aquele onde existem mais pessoas a encontrar trabalho – há um aumento de 76% de empregabilidade relativamente ao penúltimo mês. Existem então uma grande maioria de pessoas que esperam pelo último mês de subsídio para encontrar trabalho bem como outros que chegam ao fim sem o conseguir. O grande desafio é por isso encontrar o melhor subsídio que simultaneamente ajude a economia e impeça que certas pessoas esperem pelo último mês para encontrar emprego.
Qual é a medida certa para o tempo atual?
O equilíbrio ideal entre estas duas considerações depende essencialmente da taxa de desemprego (Baily 1978, Chetty 2008). Quando o desemprego é alto, como é agora, o maior problema é o número total de empregos (uma vez que a ausência do benefício teria um brutal impacto na economia) e não se as pessoas os querem ou não ter. Assim, o subsídio de desemprego pode e deve ser generoso, tanto em termos dos níveis de benefício como da sua duração.
Em contraste, quando as taxas de desemprego são baixas – como eram antes desta crise – é importante colocar mais peso em não desencorajar as pessoas de aceitar empregos, baixando então o valor e a duração do subsídio.
A economia nacional na presença de uma segunda vagaIndependentemente de vir a existir uma segunda vaga da pandemia do coronavírus, a recessão é uma certeza. A força do choque começou com as medidas de contenção social, mas prolonga-se no tempo pela incerteza relativamente ao futuro. A confiança das pessoas e as suas expectativas relativamente ao desenvolvimento do vírus são o principal contribuidor para o prolongamento do atual ciclo recessivo. É possível observar que os países (por exemplo: Estados Unidos e Suécia) onde a crise sanitária foi mais difícil e o vírus mais se espalhou, foram precisamente aqueles em que a economia mais retraiu. Por isso, uma segunda vaga irá sempre tornar a recessão mais profunda independentemente de se voltar a ter um aumento das medidas de confinamento.
O possível impacto na economia nacional
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) refere que a economia portuguesa pode cair 11,3% em 2020 e o desemprego aumentar para 13%, se houver uma segunda onda de contágios, antecipando uma retoma lenta da economia e a possibilidade de serem necessárias medidas de apoio adicionais. Esta previsão é consideravelmente pior se existisse apenas uma vaga onde a instituição aponta para uma recessão de 9,4% este ano e um desemprego de 11%. Apesar ambas as previsões serem as mais pessimistas entre as principais organizações internacionais bem como do governo português, a diferenças entre as duas é considerável.
Esta mais lenta recuperação é multifatorial onde também é relevante possíveis segundas vagas noutros países. O aumento significativo de casos em Espanha – um dos principais parceiros comerciais portugueses - é visto como uma situação crítica e até descontrolada na Europa, mas não é o único país no mundo que poderá estar a entrar numa segunda onda de infeções. Também a rapidez da epidemia no continente africano tem sido significativa e tem por isso também preocupado a Organização Mundial de Saúde (OMS). “Estou muito preocupado com o facto de começarmos a assistir a uma aceleração da doença em África, e todos devemos levar isto muito a sério e mostrar solidariedade" com os países afetados, disse esta semana Michael Ryan, diretor de Emergências de Saúde da OMS.
Com uma detioração da condição destas economias, o impacto direto nas exportações nacionais seria prolongado e certamente afetado por possíveis segundas vagas. Depois, a procura interna sofreria também com isso através da maior incerteza, aumento de falências e desemprego duradouro. Para além disso, no caso limite de uma nova necessidade de confinamento poderão ser necessárias medidas fiscais adicionais onde o prolongamento do lay-off permitiria dar maior suporte ao rendimento familiar como possivelmente substituir outras existentes.
A nível orçamental também existiriam alterações. A OCDE estima agora que Portugal tenha um défice de 9,5% em 2020 e de 7,4% em 2021 no cenário de uma segunda vaga de contágios e necessidade de novo confinamento. Na ausência de nova vaga da doença, o défice seria de 7,9% este ano e de 4,7% em 2021. Como consequência disso e da quebra do produto, a dívida pública sofre também um aumento de cerca de 15%.
Basicamente tudo se torna pior caso uma segunda vaga realmente aconteça. Infelizmente, não basta tentar evitar uma segunda vaga em território nacional, sendo claro que o alastrar do número de casos noutros países terá um claro impacto a nível nacional.
Frederico Aragão Morais, Market Analyst Teletrade Portugal
Qual é a previsão para a temporada turística em Portugal?O Airbnb vê um aumento na procura após o bloqueio do coronavírus em Portugal. Qual é a previsão para a temporada turística deste ano em Portugal?
A atual crise em que o mundo se encontra, está a meter diversas empresas em dificuldades financeiras obrigando estados a terem de ajudar de forma a impedir que os setores mais atingidos entrem numa situação ainda menos favorável.
Os setores estratégicos dos serviços e do turismo têm sido os mais afetados. A grande maioria dos desempregados vem de atividades ligadas ao turismo tendo representado cerca de 73% da subida verificada logo no mês de março. Também os últimos dados revelam que a região do Algarve foi a que registou o maior aumento homólogo do desemprego nos meses de abril e maio.
O rápido impacto da pandemia no mercado laboral já fazia prever o deteriorar da economia nacional. Na passada semana, a Comissão Europeia reviu em baixa as projeções macroeconómicas para o conjunto da zona euro e da UE, e mostrou-se particularmente mais pessimista relativamente a Portugal, ao agravar a projeção de recessão em três pontos percentuais. Esta diferença deve-se a um desempenho pior do que o esperado no primeiro trimestre e a uma recuperação mais lenta do que o previsto no turismo estrangeiro, particularmente no número de voos, e também no atraso da reabertura da fronteira com Espanha.
Apesar do turismo ter sido o setor mais afetado, com as visitas a colapsarem quase 100% em abril relativamente ao ano anterior, a procura começa agora a crescer, mas desta vez de forma diferente. O turismo vai ser praticamente nacional e os preços praticados terão possivelmente de sofrer ajustamentos. Segundo um artigo do ECO, os pedidos de baixa de preços são muitos chegando por vezes aos 80% do valor inicial.
A procura agregada não só é menor do que antes da pandemia, como é também mais fraca a nível de poder de compra. Sendo grande parte do turismo nacional proveniente do Reino Unido, o facto de Portugal constar na lista negra do Governo britânico como um país onde não é seguro viajar – obrigando os ingleses que regressem ao seu país a partir de Portugal a terem de cumprir um período de quarentena de 14 dias à chegada - não ajuda certamente o setor. A magnitude do quão o setor será afetado é difícil de prever, mas será certamente um ano difícil e diferente dos últimos.
Frederico Aragão Morais, Market Analyst
Teletrade Portugal
A importância das expectativas nos mercadosDesde o início desta crise pandémica que quaisquer desenvolvimentos relativamente ao vírus têm um forte impacto nos mercados financeiros. A razão é muito simples e está relacionada com as expectativas que os investidores têm hoje para com o futuro estado da economia.
Assim, à medida que o vírus se alastrava e o número de casos aumentava, foi possível observar as principais bolsas acionistas mundiais sofrerem reduções substanciais das suas capitalizações. No entanto, nessa altura ainda não existiam maus indicadores económicos sendo estas quebras justificadas unicamente com as perspetivas futuras desses mesmos indicadores.
Perante a esperada recessão que se avizinhava, governos e bancos centrais um pouco por todo o mundo foram rápidos a reagir através de diversos planos fiscais e monetários que acabaram por contribuir significativamente para impedir uma contínua queda das bolsas acionistas. Os maus indicadores que se esperavam, começaram a tornar-se nessa altura menos pessimistas do que antes – e isto explica o facto de fortes subidas na taxa de desemprego nos Estados Unidos terem tido um reduzido impacto nos índices. No fundo, para além dos programas expansionistas de diversas instituições e da redução do número de casos, essa informação já tinha sido descontada na redução do valor dos índices que se viveu no início da pandemia. Poder-se-á atribuir a três razões o facto de os índices não terem caído à medida que indicadores menos favoráveis iam saindo:
* Boas expectativas futuras através das ações de governos e bancos centrais, bem como à redução do número de casos;
* A exposição internacional a que o S&P 500 está sujeito leva-nos a querer que não devemos necessariamente esperar que o índice seja um barómetro da economia dos EUA. Apesar de serem empresas sediadas e cotadas nos Estados Unidos, grande parte tem negócios internacionais com vendas globais;
* O baixo rendimento do mercado de dívida foi atraindo investidores ao mercado acionista. A dividend yield entre os dois mercados está em níveis substancialmente elevados.
Como será daqui para a frente?
Neste momento, os fundamentais das empresas estão longe das cotações de mercado. Os múltiplos estão a ficar caros e se existir um reconhecimento de que a economia está pior e que as empresas irão ter dificuldades em realizar os resultados do passado recente, poderá existir uma correção em baixa do mercado.
O foque dos mercados é a economia através do vírus. Da mesma forma que a redução do número casos contribuiu para a recuperação dos principais índices acionistas, também a possível existência de uma segunda vaga poderá ditar uma queda. No entanto, a presença de bancos centrais e governos irá certamente existir de forma a evitar tal acontecimento.
A Economia Segundo Jerome PowellDurante a semana passada, o governador da Reserva Federal Norte-americana, Jerome Powell, acabou por dar o seu testemunho no Senado e no Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Representantes sobre a sua visão relativamente à economia americana. Entre os vários temas abordados daria destaque a três deles: recuperação da economia, atuação da Fed e expectativas relativamente ao futuro.
Atual e (possível) futura atuação da Reserva Federal
Desde o início da propagação mundial do coronavírus (por volta de março deste ano), a Fed cortou a sua taxa de juro de referência de curto prazo para perto de zero, comprou 2,1 biliões de dólares em obrigações do Tesouro e hipotecas e lançou também inúmeros programas de empréstimos para tentar manter o crédito a fluir sem problemas. Na segunda-feira passada, a Fed anunciou que vai começar a comprar títulos corporativos como parte de um plano para garantir que as empresas podem contrair empréstimos durante a pandemia.
Os responsáveis políticos do Banco Central preveem também que a taxa de juro diretora se manterá perto de zero até 2022. Jerome Powell, reafirmou a sua intenção de fazer o que for preciso (“whatever it takes”) referindo que adotará os mecanismos necessários para atingir os targets de full employment e inflação.
Também na semana passada existiu uma pequena redução do balanço do banco central, no entanto isso nada tem haver com uma possível redução da oferta de dinheiro. O banco central não parou nem abrandou a sua política de impressão de dinheiro, mas isso passou-se devido a uma queda do valor de contratos de recompra pendentes.
Recuperação económica
Enquanto a administração de Trump prevê uma recuperação em forma de V com um forte crescimento na segunda metade deste ano, Powell é mais cauteloso e procura focar as suas preocupações nos trabalhadores com baixos salários. Num relatório que acompanha o testemunho, a Fed menciona que os trabalhadores com rendimentos mais baixos, incluindo as minorias, estavam a ser especialmente atingidos pelas perturbações do mercado de trabalho.
O emprego caiu quase 35% para os trabalhadores que ganhavam salários cujo o seu valor se compreendia no último quarto da pirâmide salarial americana. Em contrapartida, o emprego diminuiu 5% para os trabalhadores com salários mais elevados. Dado que os trabalhadores com salários mais baixos são desproporcionalmente afro-americanos e hispânicos, o desemprego aumentou de forma mais acentuada nesses grupos.
Powell referiu na semana passada que a recuperação poderia ser dolorosamente lenta, com muitos americanos a serem incapazes de recuperar os seus antigos empregos. Essa avaliação ajudou a desencadear uma queda nos preços das ações o que levou o Presidente Donald Trump a criticar as opiniões da Fed. “A Reserva Federal está muitas vezes errada. Teremos um terceiro trimestre muito bom, um quarto ainda melhor, e um dos nossos melhores anos de sempre em 2021.”
Expectativas e impacto de longo-prazo
Powell alertou que quanto mais tempo durar a recessão pior será o efeito no emprego e nas empresas e deixou bem claro que “uma recuperação total é improvável” até que as pessoas estejam confiantes relativamente à contenção da doença, alertando que uma crise prolongada poderia ter graves consequências sobretudo para os trabalhadores com salários mais baixos, que foram os mais atingidos pelo impacto da pandemia.
O presidente da Fed avisou que longos períodos de desemprego “podem afetar as capacidades dos trabalhadores e as suas perspetivas de encontrarem emprego” e destacou ainda que a pandemia coloca “riscos elevados” aos pequenos negócios.
“Se uma pequena ou média empresa entrar em falência porque a economia está a recuperar muito lentamente, perdemos mais do que só essa empresa”, adiantou, vincando que “estes negócios estão no coração da economia e resultam do trabalho de várias gerações”.
Poderá a intervenção do Estado na TAP afetar o setor do turismo?A atual crise em que o mundo se encontra, está a meter diversas empresas em dificuldades financeiras obrigando estados a terem de ajudar de forma a impedir que os setores mais atingidos entrem numa situação ainda menos favorável. Estas possíveis dificuldades ou até mesmo falências que poderão existir, podem ser tanto por problemas de solvência como de falta de liquidez (e.g. redução substancial da procura) levando então a um pedido de empréstimos e consequente aumento dos seus passivos.
Este é certamente o caso do setor aéreo português, onde a companhia aérea TAP não é exceção. Depois de uma fase de confinamento social onde não existiu qualquer tráfego, a companhia a anunciou a estratégia de retoma das suas operações para os próximos dois meses.
O plano comunicado tem sido substancialmente criticado por membros de diversos partidos políticos bem como por representantes regionais do setor do turismo. A unânime crítica prende-se à redução do número de voos entre os aeroportos nacionais do país. Do outro lado da razão, vem uma recomendação sensata da União Europeia referindo que não é aconselhável voos vazios de forma a que reduzir um possível aumento de custos desnecessários.
O que falta, no entanto, é compreender o porquê da redução do número de voos. Se a razão for consequente de uma esperada redução da procura, então a decisão da companhia aérea parece adequada; caso contrário, pode afetar o desempenho do setor do turismo e da economia portuguesa. O objetivo tem de ser em alinhar a oferta à futura procura e se isso for realizado de forma apropriada não existirá nenhuma perda para a sociedade nem se poderá dizer que a intervenção do Estado na companhia poderá ter impacto negativo de curto-prazo (o que não invalida que não exista um aumento de impostos como consequência disso no médio e longo-prazos).
Poderá a intervenção do Estado na TAP afetar o setor do turismo?A atual crise em que o mundo se encontra, está a meter diversas empresas em dificuldades financeiras obrigando estados a terem de ajudar de forma a impedir que os setores mais atingidos entrem numa situação ainda menos favorável. Estas possíveis dificuldades ou até mesmo falências que poderão existir, podem ser tanto por problemas de solvência como de falta de liquidez (e.g. redução substancial da procura) levando então a um pedido de empréstimos e consequente aumento dos seus passivos.
Este é certamente o caso do setor aéreo português, onde a companhia aérea TAP não é exceção. Depois de uma fase de confinamento social onde não existiu qualquer tráfego, a companhia a anunciou a estratégia de retoma das suas operações para os próximos dois meses.
O plano comunicado tem sido substancialmente criticado por membros de diversos partidos políticos bem como por representantes regionais do setor do turismo. A unânime crítica prende-se à redução do número de voos entre os aeroportos nacionais do país. Do outro lado da razão, vem uma recomendação sensata da União Europeia referindo que não é aconselhável voos vazios de forma a que reduzir um possível aumento de custos desnecessários.
O que falta, no entanto, é compreender o porquê da redução do número de voos. Se a razão for consequente de uma esperada redução da procura, então a decisão da companhia aérea parece adequada; caso contrário, pode afetar o desempenho do setor do turismo e da economia portuguesa. O objetivo tem de ser em alinhar a oferta à futura procura e se isso for realizado de forma apropriada não existirá nenhuma perda para a sociedade nem se poderá dizer que a intervenção do Estado na companhia poderá ter impacto negativo de curto-prazo (o que não invalida que não exista um aumento de impostos como consequência disso no médio e longo-prazos).
Os mercados têm sido racionais e eficientes?Existe um dogma académico que consiste na hipótese de os mercados financeiros serem eficazes, pressupondo que o mesmo não pode ser vencido uma vez que incorpora toda a informação que determina os preços correntes das ações – esta teoria é chamada de efficient market hypothesis (EMH). Isto significa que as ações negoceiam sempre ao seu valor justo (fair value), o que significa que não podem ser compradas subvalorizadas ou vendidas sobrevalorizadas. A teoria determina que a única oportunidade que os investidores têm para obter retornos mais elevados sobre os seus investimentos é através de investimentos puramente especulativos que representam um risco substancial.
Há, no entanto, anomalias que a teoria não consegue explicar e que podem mesmo contradizê-la. Por exemplo, o rácio de price-to-earnings ratio (P/E) mostra que as empresas que negoceiam com múltiplos de P/E mais baixos são frequentemente aqueles que geram rendimentos mais elevados. Também, os efeitos sazonais como o sell in may and go away (situação em que investidores vendem as suas ações em maio e esperam por reinvesti-las em novembro) ou o january effect (aumento sazonal dos preços das ações durante o mês de janeiro) tornam previsível uma possível negociação geradora de lucro.
A controversa teoria deu origem a uma nova área de estudo que argumenta que, ao tomar decisões de investimento, as pessoas não são tão racionais como a teoria da efficient market hypothesis (EMH) demonstra. Assim nasceram as finanças comportamentais (behaviourial finance) que contestava esta noção, salientando que os investidores nem sempre eram racionais e que as suas ações nem sempre negociavam ao seu justo valor durante bolhas e crises financeiras. Os economistas neste campo tentam explicar as anomalias de mercado através de teorias baseadas em psicologia.
No entanto, há quem considere também que os mercados nem sempre são eficientes, nem sempre irracionais, mas sim que se adaptam. A adaptive market hypothesis (AMH) considera que a racionalidade e irracionalidade coexistem, aplicando princípios de comportamento humano às interações financeiras. Aqui as pessoas são principalmente racionais, mas às vezes podem rapidamente tornar-se irracionais em resposta à volatilidade do mercado, abrindo então oportunidades de investimento.
Situação atual do mercado
É preciso desmistificar a premissa de que os índices acionistas têm de ser um espelho do ciclo económico. Existem várias razões para podermos assumir que isso não tem sempre de acontecer e talvez agora seja um desses casos.
A exposição internacional a que o S&P 500 está sujeito leva-nos a querer que não devemos necessariamente esperar que o índice seja um barómetro da economia dos EUA. Apesar de serem empresas sediadas e cotadas nos Estados Unidos, grande parte tem negócios internacionais com vendas globais. Apesar dos EUA estarem a sofrer um impacto económico pior do que alguns outros países, o S&P 500 está apenas parcialmente focado nos EUA, uma vez que uma parte significativa dos lucros vem do exterior para muitas empresas. O S&P 500 é agora mais uma avaliação da economia global do que os EUA.
A bolsa também tende a incorporar no presente as expectativas relativamente ao futuro e assim incluir as previsões futuras dos resultados financeiros das empresas. Como consequência, o mercado tem a capacidade de reagir em alta antes das más notícias acabarem. Por exemplo, na recessão anterior, o S&P 500 começou a recuperar em março de 2009, mas a recessão só terminou oficialmente em junho desse ano.
A contribuir para este facto parece estar algum otimismo de que a resposta do governo norte-americano e as ações da Fed, reduzirão o impacto económico e sustentarão as avaliações dos preços dos ativos. Claro que isso não quer dizer que o mercado esteja necessariamente correto nesse sentido, uma vez que esta previsão pode estar certa ou errada, mas é justo dizer que o mercado tem uma visão otimista sobre o que se passará com a economia.
Apesar de ser compreensivelmente tentador afirmar que a EMH não se aplica aos mercados que hoje observamos, existem explicações para o atual comportamento dos principais índices acionistas americanos. Certamente que a irracionalidade chegou quando a volatilidade atingiu o mercado e também àqueles que esperavam uma eterna queda dos índices de forma a ser um espelho dos maus indicadores que saíam para economia americana.
Perante as perdas dos índices acionistas, alguns investidores venderam o que tinham e por uns tempos não se irão querer lembrar dos mercados, enquanto outros tiveram a capacidade de se adaptar e até poderão ter gerado lucros. Nos dias de hoje, arriscaria que a adaptive market hypothesis (AMH) pode ser a teoria que gere maior consenso.
Até onde poderá ir o desemprego no turismo?Apesar das medidas de contenção social se terem iniciado apenas a meio do mês de março, existiram 52.999 novos inscritos nos centros de emprego, o que representa um crescimento de 34% face ao mesmo mês de 2019. Curiosamente, no mês em que se deu o maior confinamento da população existiu também uma diminuição do crescimento do número de desempregados relativamente ao mês anterior. No entanto, os números não são animadores uma vez que acabaram por ficar sem emprego mais de 48 mil pessoas, o que dá uma média de 1.618 pessoas por dia que ficaram sem trabalho.
Os setores estratégicos dos serviços e do turismo foram os mais afetados. Uma vez que o setor dos serviços representa a maior parte da economia portuguesa, seria então esperado que parte do desemprego tivesse então essa origem.
No entanto, segundo o Instituto de Emprego e do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, a grande maioria dos desempregados vem de atividades ligadas ao turismo representando cerca de 73% da subida verificada logo no mês de março. Os últimos dados revelam também que a região do Algarve foi a que registou o maior aumento homólogo do desemprego tendo subido 41% no mês de abril.
A incerteza inicial do começo da pandemia levou a uma provável antecipação por parte de algumas empresas relativamente a um futuro menos previsível, justificando então o rápido aumento do desemprego.
Previsões Futuras
Daqui para a frente não é, no entanto, fácil de antecipar. Praticamente 90% da economia algarvia é dependente do turismo. Também 70% do setor é de nacionalidade estrangeira e se as viagens continuarem limitadas, serão certamente tempos muito difíceis para a região. Para além disso, as várias pessoas que se encontram num regime de lay-off simplificado não podem ser despedidas por um prazo de dois meses depois do início da cobertura do mecanismo. É possível que quando esse período acabar, empresas que não tenham uma retoma consistente do seu negócio, se vejam por ventura forçadas a despedir pessoas – contribuindo para um maior aumento do desemprego.
Frederico Aragão Morais,
Market Analyst na Teletrade Portugal
Qual é a previsão para o EUR/USD até ao final de 2020?Como será o desempenho económico da UE no segundo semestre de 2020. Qual é a previsão para o EUR/USD até ao final de 2020?
Os dados preliminares que saíram para a economia europeia apontam para a sua pior contração registada no primeiro trimestre.
A desaceleração ocorreu, em grande parte, pelo congelamento da atividade das empresas e consumo das famílias na maior parte do mês de março, devido a medidas adotadas pelos governos para conter a propagação da pandemia.
De acordo com dados de institutos estatísticos nacionais, a Covid-19 causou fortes quedas na procura interna e externa em França, Itália e Espanha, enquanto as contrações nas economias da Zona Euro mais pequenas eram consideráveis, mas menos severas. As perspetivas para o segundo trimestre são ainda mais negativas, devido a medidas de bloqueio prolongadas, onde se espera uma quebra da atividade económica ainda maior – a quebra da confiança dos consumidores e das empresas bem como a contração dos setores de Manufatura e Serviços apontam para uma redução significativa do produto. Para amortecer o impacto económico da crise, os ministros da zona euro lançaram um pacote de emergência no valor de 540 mil milhões de euros; no entanto, permaneceram profundamente divididos sobre estímulos pós-crise.
Um possível consenso do impacto económico prevê que a economia da União Europeia possa descer por volta de 8% este ano, onde o pior cenário aponta para 13% do PIB– esta diferença reflete bem a incerteza presente relativamente ao futuro.
Previsão do par EUR/USD
À medida que crescem os receios de uma segunda vaga de infeções do novo coronavírus, uma rutura do par para o lado negativo parece cada vez mais provável.
Para já, esses receios estão a sobrepor-se à esperança de um alívio das restrições sociais que possam permitir o reinício da atividade económica normal. Isso significa, por sua vez, que os fundos irão provavelmente fluir para ativos de refúgio, como o dólar americano, em detrimento de ativos mais arriscados como o euro, o dólar australiano, a libra esterlina e o mercado acionista. Mesmo que os Estados Unidos se tornem menos atrativos para o investimento, a sua atração será superior em relação à maioria das outras partes do mundo.
Além disso, as negociações comerciais pós-Brexit entre o Reino Unido e a UE continuam a fazer poucos progressos. É provável que isso atinja a libra britânica com mais força do que o euro, mas continua a ser mais um fator negativo para o EUR/USD.
Frederico Aragão Morais,
Market Analyst na Teletrade Portugal
Vendas a retalho na UE e a dinâmica do PIB na Zona Euro em 2020Como é que as vendas a retalho na UE em abril influenciam a dinâmica do PIB na Zona Euro em 2020.
Nos primeiros três meses do ano já foi possível observar o impacto das medidas de contenção social no produto interno bruto (PIB) da Zona Euro - a economia recuou ao ritmo mais rápido de sempre, recuando 3,8%, de acordo com as estimativas preliminares do Eurostat. França, Espanha e Itália - três das quatro maiores economias do bloco - registaram contrações trimestrais nunca antes observadas no seu produto, tendo também dois dos três entrado em recessão.
Em particular, as vendas a retalho contribuíram significativamente para este resultado uma vez que registaram a sua maior queda, tendo diminuído 11,2% apenas no mês de março. Os dados mostram também que as vendas a retalho alemãs caíram 5,6% em março, tendo sido essa a queda mais rápida em mais de uma década.
A realidade é que este é bom indicador do pulso da economia e a sua performance pode indicar a direção para qual a economia se dirige. Apesar do seu estatuto de indicador coincidente, ele é usado muitas vezes como um indicador antecedente do ciclo económico, uma vez que representa aproximadamente dois terços do PIB da zona euro. A sua brutal redução no mês de março e aquela que se espera para o próximo de abril – cerca de 10% - mostra a substancial diminuição do consumo da população. Como aparente causa, temos a existente aversão pelo risco e um forte aumento das poupanças dos consumidores, não só como consequência das medidas de contenção social como também por precaução face a um futuro incerto. Aos dias de hoje, ainda não temos razões convincentes que nos levem a pensar numa alteração de paradigma.
Estas quedas das vendas refletem-se nos resultados das empresas, que se não tiverem liquidez financeira suficiente podem não ter outra alternativa senão despedir recursos humanos, levando consequentemente à redução da procura agregada da economia. Se por acaso, essas organizações estiverem cotadas e não oferecerem canais alternativos de venda, podem ser também afetadas pela queda do valor das suas ações, levando mais uma vez à redução do seu capital próprio e a sua capacidade de investimento.
Espera-se então que o PIB da zona euro seja substancialmente afetado por estes resultados. Christine Lagarde, presidente do BCE, alertou na semana passada que o PIB pode cair 15% este ano enquanto a Alemanha prevê que a sua economia poderá contrair 6,3%.
Frederico Aragão Morais,
Market Analyst na Teletrade Portugal
Quanto poderá aumentar a taxa de desemprego em Portugal até ao fAs previsões relativamente ao desemprego em Portugal para o ano de 2020 variam substancialmente nas diversas instituições nacionais e internacionais.
É factualmente raro observar o governo nacional e a comissão europeia em consonância relativamente a previsões económicas, no entanto isso está a acontecer relativamente à taxa de desemprego anual portuguesa – ambos apontam para um valor de 9,7%. Apesar de representar um aumento de aproximadamente 33% do desemprego, esta é a previsão mais otimista quando comparada com as restantes existentes.
A instituição que indica o mais fraco desempenho do mercado laboral português é o Fundo Monetário Internacional (FMI), que prevê uma recessão de 8,0% da economia portuguesa e uma taxa de desemprego de 13,9% em 2020.
Um possível consenso de analistas de um cenário base relativamente à previsão da taxa de desemprego ronda aproximadamente um valor de 10,5%, podendo variar consoante a alteração de fundamentais económicos utilizados nos pressupostos destes cálculos. No que concerne a um cenário pessimista, uma taxa de desemprego de 12% seria o mais consensual, onde a evolução projetada em ambos os cenários dependem essencialmente da magnitude das medidas de estímulo económico e da sua implementação no curto-prazo.
Frederico Aragão Morais,
Market Analyst na Teletrade Portugal
A indeterminação do vírus revela-se numa incerteza na economiaEra claro desde o início que as consequências económicas do coronavírus seriam a de uma atípica recessão. Alguns economistas não lhe quiseram chamar “recessão” pensando que o choque se resumiria simplesmente ao lado da oferta. O caminho da recuperação seria em forma de V – nunca numa forma de U, muito menos com uma formação de L. Agora, poucos meses depois os governos começam a levantar as restrições de contenção social e voltam a abrir as suas economias. No entanto, uma rápida recuperação talvez já não seja plausível.
É previsível que, tal como na maior parte das economias do mundo, o produto interno bruto nacional seja bastante afetado por esta crise que está a ser provocada pela pandemia do coronavírus. Um possível consenso entre analistas estaria à volta de uma contração anual da economia por volta dos 3% do PIB e um consequente aumento do desemprego para cerca de 10% de toda a força de trabalho portuguesa.
Partindo do princípio que uma vacina chegará em meados do ano de 2021, a recuperação da economia no presente ano depende em muito da existência de novas vagas do surto epidémico. A própria Direção Geral da Saúde (DGS) já referiu que é muito provável que se volte a experienciar um aumento da taxa de crescimento do número de casos afetados ao ponto a que exista um retrocesso do alívio das medidas de contenção.
A indeterminação relativamente à propagação do vírus revela-se numa incerteza na economia. Apesar de não se esperar uma recessão tão profunda como aquela que se viveu na crise da divida soberana de 2010 (resultante também de uma diferente abordagem realizada pelos governos e instituições internacionais), o aumento do desemprego e o contido consumo que são esperados nos próximos meses irão ter um impacto significativo de curto-prazo. Também as expectativas relativamente ao futuro afetam também o investimento e o potencial crescimento de várias variáveis económicas. Uma vez que não é expectável que a disseminação do vírus e o retirar das atuais medidas de contenção tenham a forma de um “V” invertido, é também provável que a própria economia demore o seu tempo a recuperar – onde uma total recuperação dos atuais níveis dos principais indicadores económicos seja apenas atingida num período de três anos.
Frederico Aragão Morais
Market Analyst da TeleTrade
A economia de Portugal em tempos de coronavírusÉ previsível que, tal como na maior parte das economias do mundo, o produto interno bruto nacional seja bastante afetado por esta crise que está a ser provocada pela pandemia do coronavírus. Um possível consenso entre analistas estaria à volta de uma contração anual da economia por volta dos 3% do PIB e um consequente aumento do desemprego para cerca de 10% e toda a força de trabalho portuguesa.
Partindo do princípio que uma vacina chegará em meados do ano de 2021, a recuperação da economia no presente ano depende em muito da existência de novas vagas do surto epidémico. A própria Direção Geral da Saúde (DGS) já referiu que é muito provável que se volte a experienciar um aumento da taxa de crescimento do número de casos afetados ao ponto a que exista um retrocesso do alívio das medidas de contenção.
A indeterminação relativamente à propagação do vírus revela-se numa incerteza na economia. Apesar de não se esperar uma recessão tão profunda como aquela que se viveu na crise da divida soberana de 2010 (resultante também de uma diferente abordagem realizada pelos governos e instituições internacionais), o aumento do desemprego e o contido consumo que são esperados nos próximos meses irão ter um impacto significativo de curto-prazo. Também as expectativas relativamente ao futuro afetam também o investimento e o potencial crescimento de várias variáveis económicas. Uma vez que não é expectável que a disseminação do vírus e o retirar das atuais medidas de contenção tenham a forma de um “V” invertido, também é provável que a própria economia demore o seu tempo a recuperar – onde uma total recuperação dos atuais níveis dos principais indicadores económicos seja atingida num período de três anos.
A breve história do maior crash de sempre do petróleoDesde o início da propagação do novo coronavírus é possível observar os preços do petróleo a caírem substancialmente. A Arábia Saudita cortou os seus preços de venda de petróleo e aumentou a produção depois de a Rússia se ter recusado a aderir ao seu plano de reduzir ainda mais a produção e aumentar os preços no início de março. Os russos acabaram por retaliar e os dois países inverteram o rumo da política petrolífera e caminhavam para ter uma maior quota de mercado. Com isto, todos saíam penalizados sendo os Estados Unidos claramente afetado uma vez que a sua produção deixaria em grande parte de ser economicamente viável com os preços abaixo dos 50 dólares por barril.
Há duas semanas atrás foi então realizado um alargado acordo de corte de produção – equivalente a uma redução de 10 milhões de dólares por barril - tendo sido o maior da história. No entanto, os preços do petróleo continuam a cair, uma vez que os investidores não estão convencidos de que os cortes são suficientes para contrariar a destruição da procura provocada pelo vírus. Esta falta de procura tem deixado o mundo com mais petróleo do que aquilo que pode usar.
Outro grande problema é também sobre se podemos armazená-lo até que as medidas de contenção social sejam facilitadas o suficiente para gerar alguma procura adicional de produtos petrolíferos. A capacidade de armazenamento está a encher-se rapidamente e à medida que o tempo passa, é provável que baixe ainda mais os preços. Será preciso uma recuperação da procura para dar a volta ao mercado e isso dependerá da forma como a crise da saúde pública se desenrolar. Poderão ainda existir mais cortes na oferta à medida que os produtores do sector privado respondem aos preços baixos, mas é difícil ver que seja suficiente para ter um impacto fundamental no mercado.
Esta segunda-feira, dia 20 de abril, acabou também por ser um dia histórico para a cotação do preço do petróleo. O contrato de futuros do mês de maio do West Texas Intermediate (WTI), encerrou num valor negativo de -37,63 dólares por barril (depois de ter chegado a fixar-se em 40 dólares negativos), algo que nunca aconteceu anteriormente. Isto significa que o titular de uma posição de compra seria obrigado a pagar para tirar o contrato das suas mãos. A razão apontada para esta descida é precisamente o facto de não existir armazenamento suficiente, levando isto a que aqueles que o detêm, tenham de esvaziar os seus inventários para que o seu preço possa voltar, pelo menos, a dígitos positivos.
Os preços negativos dos contratos de futuros do petróleo bem como o baixo preço do barril – está a cotar nos 15 dólares por barril (valor mais baixo desde 1986) - são uma consequência do atual contexto que vivemos e poderá traduzir-se em preços cada vez mais baixos da gasolina sendo isso um ponto positivo para os consumidores mais atingidos por esta crise.
Os fracos fundamentos de um possível mercado de altaNa semana passada foi possível observar uma recuperação notável dos principais índices acionistas mundiais, onde o S&P500 subiu 18% tendo a melhor semana desde 2008, o Dow Jones teve os melhores três dias desde a 1933 e o português PSI-20 teve a sua maior subida numa década. A questão que se tem posto é se já atingimos o ponto mais baixo daquele bear market e demos assim início a um novo bull market ou se piores dias ainda viram.
A motivar o sentimento de apetite pelo risco estiveram os estímulos monetários e fiscais de vários governos e, em particular, a aprovação do Congresso norte-americano do pacote orçamental proposto pela administração de Donald Trump e a decisão do Banco Central Europeu (BCE) de deixar de aplicar os 33% de auto-limite à compra de obrigações de dívida pública.
No entanto, a variável mais importante é a duração final da pandemia e o levantar das medidas de contenção para restringir a sua propagação. E como isso é ainda pouco previsível, ninguém sabe realmente as suas reais consequências económicas. O que está contido no preço a que os índices estão a cotar não são os possíveis efeitos desta crise, mas sim a maneira como o mercado se sente acerca deles. Na realidade, é muito difícil projetar as futuras receitas de uma empresa quando nem elas fazem ideia de quão serão afetadas.
Neste momento, os fundamentos acabam por ter pouca importância uma vez que são de pouca qualidade, mas existe a expectativa de que os mercados recuperarão mais rápido do que a economia levando então a estes dias de maior confiança. A Goldman Sachs estima que o S&P 500 terminará ainda este ano de 2020 com mais de 20% dos atuais níveis de mercado, mas que ainda existirão quedas nos mercados antes de isso acontecer. Também o Volatility Index (VIX) continua em níveis bastante altos refletindo a dúvida existente relativamente à consistência de um mercado de alta.
O pânico que levou à venda das ações parece ter acalmado como consequência das medidas de estímulo, mas o foque dos mercados continua a ser as notícias que nos invadem todos os dias e a sua inerente incerteza dá-nos também a segurança de que é difícil dizer que o pior já passou. Apesar disso, é normal pensar-se que com todos os estímulos que se esperam, a perceção que se tem do futuro seja agora menos drástica.
Helicopter Money: se não for agora, alguma vez será?Na semana passada escrevia sobre a possibilidade destas medidas de expansão monetária e fiscal não passarem apenas de ações de sobrevivência com pouco valor acrescentado e estímulo económico. Do lado da procura, as pessoas têm agora uma vida menos ativa e com a incerteza relativamente ao futuro acabam por consumir menos; enquanto do lado da oferta, por mais baixos que sejam os juros, empresas com problemas de solvência ou de falta de liquidez têm sempre de se endividar para poder pagar salários.
Existe, no entanto, uma forma de possivelmente atenuar os efeitos menos positivos destas medidas. Helicopter Money refere-se à injeção de capital na economia diretamente nos bolsos dos agentes económicos. Isto aumentaria o dinheiro disponível, e consequentemente, levaria a uma maior procura e mais baixa necessidade de endividamento das empresas. Ben Bernanke chamou-lhe um programa fiscal financiado por dinheiro (2016). A razão por detrás disso é porque podemos pensar em Helicopter Money como uma expansão fiscal. O banco central compraria obrigações do tesouro em open market operations e o estado reduziria impostos na mesma quantia.
Olivier Blanchard (2019), ex-economista chefe do FMI, refere duas formas possíveis de isto acontecer:
Indireta: Obrigações do tesouro seriam emitidas por um estado que seriam posteriormente compradas pelo banco central. A dívida é do governo para com o banco central. O banco central vê um aumento do seu passivo (quantidade de dinheiro) assim como do seu ativo (obrigações do tesouro) ficando o seu net igual;
Direta: Banco central transfere dinheiro diretamente para as famílias. Não existe dívida por parte do governo para com o banco central. Existe um aumento do seu passivo (quantidade de dinheiro) sem que aconteça um aumento do seu ativo, diminuindo então o seu net.
Existem, no entanto, desvantagens em cada um dos cenários. No primeiro, a diminuição da posição líquida de capital do banco central é algo que não é do interesse dos bancos centrais. Fá-los parecer mal geridos e põe em causa a sua independência. Já no método indireto, o governo tem o incentivo de aumentar impostos uma vez que existe um aumento da sua dívida. Dessa forma, os consumidores estariam mais dispostos a gastar esse dinheiro na forma direta.
Depois existem também barreiras à sua implementação. Helicopter Money acaba por ser uma forma de contornar regras de consolidação orçamental e certamente alguns países europeus não estariam muito abertos a que isso acontecesse. Para além disso, questões mais práticas também seriam precisas responder: Quem daria informação das famílias aos bancos centrais? Quem é que recebe essa quantia, cada indivíduo ou o agregado familiar? Precisaria de aprovação em parlamento? O BCE tem a capacidade para o fazer? Todos os países receberiam a mesma quantia?
Também há uns meses, escrevia sobre a possibilidade de se observar Helicopter Money na Zona Euro, referindo que apenas perante uma grande crise seria possível ver esta medida em ação. No entanto, na Europa as decisões políticas demoram o seu tempo a serem tomadas, e uma política desta magnitude seria altamente complicada de ver implementada. No entanto, ela ajudaria certamente a mitigar os efeitos negativos desta pandemia de uma forma mais eficiente do que qualquer outra medida. Infelizmente, a crise chegou e será interessante observar se os conservadores políticos europeus irão abrir mão a um precedente nunca antes visto.