O mercado inicia a desinverter a curva de jurosDurante o ano todo, vimos o Federal Reserve americano lutando para convergir a inflação para a meta de 2%, apostando em manter os juros na faixa de 5,25% a 5,50%. O fato é que observamos um mercado de trabalho muito resistente ao abrandamento.
O contexto disso é que, quanto maior a taxa de emprego de um país, mais dinheiro circula na economia, e mais as pessoas gastam. Com a maior demanda e oferta constante, os preços sobem. Economia básica: renda > consumo > inflação.
Todo esse cenário de juros altos e combate à inflação levou os investidores a "desacreditarem" nos EUA no longo prazo, exigindo um prêmio maior para os títulos de curto prazo. Isso significa que os títulos do governo com vencimento de 2 anos pagam mais do que os títulos de 10 anos. Afinal, por que você alocaria seu dinheiro por 10 anos em um título que paga menos do que uma alocação de 2 anos, sendo que o risco é o mesmo?
Porque o mercado tinha preocupações de curto prazo que obrigavam o governo a buscar financiamento e pagar mais para prazos menores, e essas preocupações estão relacionadas à inflação, conforme mencionado anteriormente.
À medida que a inflação desacelerou, a curva de 10 anos subtraída pela curva de 2 anos voltou a "desinverter", ou seja, no gráfico abaixo, voltou a se aproximar de um valor positivo. Observe nesse gráfico que o valor do spread da curva (T10 - T02) é negativo, significando a diferença positiva que o título curto paga a mais .
No entanto, no dia 05/08, o mercado de juros ficou por alguns minutos desinvertido, e os agentes passaram a exigir mais prêmio para a alocação de longo prazo em comparação com a de curto prazo causando a famosa desinverção. Mas o que aconteceu no dia 05 de agosto?
Yield Steepen e o Bank of Japan
Em 5 de agosto, o Banco do Japão inesperadamente encerrou a política de juros negativos (a banda), que durou oito anos, elevando sua taxa de juros e tornando o custo de empréstimo no Japão positivo. A reação imediata foi a repatriação do dinheiro usado para carry trade em mercados estrangeiros e o pagamento dos empréstimos dessa operação.
Carry trade (ou carrego) é a operação onde dinheiro de emprestimo de juro baixo que é usado para rentabilizar onde o juro é maior, ou seja, pegou emprestimo no Japão a 0,01% de juro para render 4%a.a. nos EUA ou em lugares de maior risco.
Essa decisão foi parcialmente motivada pela crescente pressão inflacionária no Japão e pela necessidade de ajustar a política monetária para lidar com as expectativas de inflação futura. Além disso, a política de YCC estava começando a gerar distorções no mercado, como a redução da liquidez nos mercados de JGBs e o aumento da pressão sobre o iene.
O steepening (inclinação) da curva de juros americana também foi motivado pela preocupação com o emprego nos EUA, que parece estar desacelerando um pouco mais rápido do que o previsto. A volatilidade foi tremenda, e o mercado entrou em selloff, acionando o mecanismo de parada de negociações (circuit break) no Nikkei 225 e quase acionando os mecanismos nos EUA, onde vimos o S&P 500 caindo mais de 6% no início da sessão europeia. A alavancagem no mercado e a centralização em IA foram significativas, criando um cenário de correria em que a saída era estreita.
Hoje, o mercado retoma a estabilidade após o BOJ anunciar que descarta a possibilidade de um forte aumento dos juros, retirando a pressão sobre a curva de juros japonesa, em um claro blefe após as falas anteriores.
Sobretudo, a desaceleração abrupta na economia americana trouxe à tona a possibilidade de cortes mais intensos nos juros americanos, mantendo a curva muito próxima da desinversão e aumentando as chances de um pouso suave em vez de uma recessão severa. Agora, resta observar as próximas leituras de inflação e, principalmente, de emprego.
Sugestões para leitura e fact check
www.infomoney.com.br
www.bloomberg.com
www.bloomberg.com
www.reuters.com
www.bloomberglinea.com.br
Estudo pessoal
T10
Bolsas caem na realApós alguns meses de alta em Indice de ações americanas (Azul) e Treasuries americanos (Vermelho), as bolsas voltam a cair na real e caem mais expressivamente.
Historicamente, quando os EUA passa por um periodo de alta inflação e o FED começa a subir juros para conter a economia e assim conter a inflação através do impacto de juros altos sobre o consumo da população americana, a correlação entrem Treasuries (em especial o T-10) e o indice S&P 500 é negativa, ou seja, uma vez que os juros sobem eles acabam reduzindo o "preço" das ações, feito por modelos.
No grafico podemos ver que desde os meados de Maio desse ano o S&P e T-10 subiram juntos. Porem, desde Agosto, as ações começaram a entrar em modo de realização com um trigger inicial do rebaixamento da dívida americana de sua classificação mais alta (AAA) para (AA+). Desde entao, o indice de ações americanas fechou hj com queda de 8,5%.
Junto com as continua alta expressiva dos Treasuries americanos, onde o T-10 bateu hj 4,88% e o 30 anos chegou a tocar os 5%, tivemos a ultima reunião do FOMC e Powell e outros membros do FED vieram com uma impressão mais Hawkish através do Dot Plot. Os membros demonstraram mais interesse em manter os juros altos por mais tempo, subindo a regua dos cortes esperados para ano que vem e cortando qualquer possibilidade de corte esse ano.
Um trigger final, tambem durante a entrevista do Powell, ele comenta pela primeira vez que possivelmente a taxas de juros neutra americana está mais alta. O que pode gerar mudanças significativas no calculo dos modelos de precificação das ações.
Desde a ultima reunião do FOMC os mercados praticamente só cairam, chegando a -6,3% no fechamento de ontem.
Hoje os mercados realizaram um pouco os movimentos recentes. Treasuries voltaram a cair (-1,30%) e S&P fechando no campo positivo (+0,77%). Os treasuries vao voltar a ceder e as bolsas voltar a subir? Vamos, ficar de olho, dados importantes essa semana.
Inversão na curva de juros curtos AmericanosHistoricamente, uma recessão nunca aconteceu sem uma inversão na curva de juros. Semelhante à última inversão em 2019, tem aumentado a preocupação de que o aperto da política do Fed reduzirá os gastos do consumidor e a atividade empresarial. Agora o banco central dos EUA está lutando contra as taxas de inflação mais altas em uma geração, o que está alimentando especulações de que as circunstâncias exigirão um ajuste mais drástico nas taxas de juros, com consequências mais dolorosas.
Porque a sinalização de inversão nos Juros é importante?
Os rendimentos de curto prazo que são mais altos do que os rendimentos de longo prazo são considerados anormais pois sinalizam que é improvável que altos níveis de rendimentos de curto prazo sejam sustentados à medida que o crescimento desacelera.
Todavia, o presidente do FED, Jerome Powell, disse na semana passada que está focado nos rendimentos do Tesouro até 18 meses, que não mostram esses sinais de alerta. Analistas especialistas e Traders de Futuros dizem que a compra maciça de títulos do Tesouro pelo FED nos últimos dois anos — suas participações totalizam cerca de US$ 5,8 trilhões — distorceu qualquer sinal dos níveis de rendimento, o que poderia explicar essa sinalização como falsa.
Esse é um sinal importante sobre a saúde do mercado global, e pode dar horizontes econômicos para 2023 e 2024.
No gráfico estou subtraindo o T2 pelo T10, e o valor 0% é o exato momento em que a inversão acontece de fato.
E então inicia-se o ciclo de alta de Juros AmericanoO tão esperado ciclo de alta de Juros Americano chegou mas provavelmente surpreendendo muitas expectativas que o mercado havia construído desde então.
Com o crescimento do emprego nos EUA, pungência na Indústria e Serviços e Crescimento do PIB, é inegável que temos um cenário de inflação ocasionada por crescimento, um inflação sólida. Não é como se os EUA estivesse com a corda no pescoço, muito pelo contrário, o crescimento é tanto que o Banco Central tem que reduzir os estímulos a economia.
É interessante ver como o atual presidente do FED quebra as expectativas de todos, sempre muito Dovish, e é nisso que baseio meu esquema de subida em 0,25bp nas 6 reuniões restantes. Temos uma projeção de Juros a 2% até o fim de 2022, é uma subida tranquila de apenas 0,25bp podendo inclusive não ter altas em algumas reuniões , pois a diminuição rápida do balanço do FED pode ajudar a combater a inflação sem precisar mexer bruscamente nos Juros, ainda assim, a conversa sobre o Balance Sheet ficou para a próxima reunião em Maio.
Powell ainda enfatizou que o cenário de incerteza ante a Crise no Leste Europeu e potenciais novas variantes do Covid podem trazer mudanças bruscas no cenário. Powell segue observando os dados de crescimento forte dos EUA, principalmente de olho no emprego.
Mas o que a alta de Juros Americanos representa?
Estados Unidos hoje é um dos maiores importadores do mundo, um projeto de desestímulo da economia deve frear toda essa cadeia de importação, tanto de produtos acabados como de matéria-prima consumida de países emergentes. Importante ressaltar o impacto que pode ser visto na China, uma vez que podemos estar em vista de uma diminuição substancial da taxa de produção Chinesa. O desaquecimento deve frear a inflação e estabilizar o valor da moeda, estabilizando o poder de compra Americano mas reduzindo a demanda gradativamente, ocasionada por um pontual aumento no desemprego.
Em países como o Brasil, o capital investido em emergentes deve migrar em parte para os títulos do tesouro Americano, conforme os juros vão aumentando, os investidores institucionais trocam o carrego pela segurança, ou seja, trocam alto rendimento com risco elevado por baixo rendimento com risco reduzido (ou nenhum). A diminuição na produção na China pode afetar diretamente a taxa de exportação Brasileira, desaquecendo também setores Energéticos e Metalúrgicos do Brasil.
Empresas que tomaram dívidas de curto prazo verão um aumento nos juros de dívida, o que deve causar uma diminuição no lucro imediato, principalmente empresas de Tecnologia e Serviços. Esse aumento nos custos deverá ser repassado para o cliente final.
Mas é importante ressaltar que isso não é o fim do mundo, longe disso! A economia anda em ciclos, tivemos o ciclo de expansão e agora estamos entrando em um ciclo de contração, a dica é buscar entender que empresas se beneficiam desse tipo de cenário, ou, quais são suficientemente resiliêntes para crescer nesse cenário.
Qual foi a sinalização do FOMC?Nenhuma!
Exatamente isso, ontem na comitiva de imprensa o Diretor do FED, J. Powell, deixou muitas incertezas na cabeça do investidor ao fazer nenhuma sinalização precisa sobre a política monetária dos EUA.
É notório que o mercado estava com altas expectativas para com essa reunião, e já vinha sentindo um FED "amigo do mercado", deixando sempre claro como seria a retirada de estímulos da economia, e bem por isso tivemos um fenômeno de dip buying após as perdas da semana passada, causadas pela tensão Geopolítica.
Mas aparentemente os investidores terão que lidar com múltiplos cenários de incerteza, tendo em vista que Powell não deixou 100% claro se em março haverá retomada de juros justamente por estar vendo níveis de emprego recordes, embora a fala do presidente deu tom de medo da inflação, afirmando que o FED tomará as medidas necessárias para conter uma inflação que saia do "cenário base"
"Não é possível destacar agora o ritmo de alta dos juros, seremos guiados por dados"; "Foco está sobre alta dos juros em março, se as condições forem apropriadas "; "Há risco de inflação alta por mais tempo do que o esperado, mas não é o cenário-base".
O mercado que esperava uma certeza de que março haveria alta de juros, poderia se programar para trabalhar nessas condições. Agora o cenário de incerteza paira no ar. Além de rumores de uma potencial alta de 0,5% invés de 0,25, o que é visto como desesperado e desastroso.
As condições apropriadas são um aumento da inflação e um recuo dos empregos, uma vez que o FED não quer arruinar os níveis recordes de empregos no momento.
"Há muito espaço para elevar os juros sem afetar o mercado de trabalho".
Quando perguntado do balanço patrimonial, Powell disse que a expectativa de redução está para o segundo semestre, mas ainda assim deixou na mesa a incerteza sobre essa afirmação, embora falou que o reflexo do QT (Quantitative Tightening) deverá ser mais forte.
"Vamos ter ao menos mais duas reuniões para discutir redução do balanço"; "Vamos nos mover mais rápido na redução do balanço do que na última vez";
Resumo
O mercado de risco não gostou nada da incerteza deixada, o balde de agua fria foi visto ontem no mundo todo, inclusive nas criptomoedas (ativo de risco). Ressalto a busca por segurança (moedas fortes) se intensificou ontem. Outro fator notável foi a fuga de Ouro e Títulos Públicos, sinalizando alta expectativa de juros.
Vale ressaltar que ouro é segurança intrínseca, ele não rende juros, diferente de títulos públicos. O sinal é a liquidação de posições para aproveitar a alta de títulos do Governo Americano.
Segundo a matéria na Bloomberg , Traders já apostam em até 5 altas de 0,25 para esse ano. Lembrando que temos mais 7 reuniões do FOMC pela frente.
Na minha opinião veremos players repensando suas posições e procurando formas de se proteger ante a incerteza, as reuniões seguintes devem definir com precisão para onde vamos. Muita atenção para dados de emprego, principalmente Payroll semana que vem. Dados de indústria também vão ser importantes.