Dentre o universo das trades, existem diversos tipos de padrões gráficos bem conhecidos e valorizados pela maioria, alguns deles são de certa forma intuitivos e de fácil dedução de qual seriam as consequências da confirmação deste padrão. Porém, há também padrões que parecem não fazer muito sentido a cabeça de quem está começando. Com toda certeza uma das maiores fontes de confusões dentre as ações de preço, estão as cunhas (wedges).
As cunhas são padrões gráficos que assim como o OCO representam enfraquecimento de uma tendência, mas, como exatamente uma cunha descendente (bullish descending wedge) pode apontar um grande movimento de alta, enquanto uma cunha ascendente (bearish ascending wedge) pode representar uma queda?
Volatilidade do mercado
A primeira noção que nos leva a compreender o funcionamento de uma wedge, vem da noção da volatilidade de um mercado. O mercado financeiro pode ser visto como um grande movimento aleatório e quanto menor o tempo gráfico analisado, mais instável e imprevisíveis são os proximos movimentos deste. A volatilidade pode ser compreendida como a amplitude dos movimentos do mercado em uma determinada faixa de tempo. Sendo assim, quanto menor o tempo gráfico, automaticamente mais volátil ele é. Sendo assim, períodos de baixa volatilidade no mercado indicam movimentos menores e mais contidos da ação de preço. Como o mercado trabalha em forma de ciclos e oscilações, logo obviamente a volatilidade do mercado oscila em ciclos de alta e baixa volatilidade, sendo assim, quanto menor a volatilidade de um mercado em um certo tempo gráfico, maior as probabilidades de estarmos no aproximando de um novo ciclo de alta volatilidade e grandes movimentos.
Há diversas formas de se medir a volatilidade de um mercado, sendo o tamanho das velas em um certo tempo gráfico, indicadores como o MACD, Bandas de Bollinger, ATR, até mesmo osciladores como o RSI (porém isto requer uma análise mais minuciosa e um melhor entendimento de como o RSI funciona). Porém, uma destas medições de volatilidade podem ser realizadas através de padrões gráficos, um destes padrões é a wedge.
Descending Wedge
A wedge é um padrão que reflete diretamente a perda de força e principalmente, diminuição da volatilidade do mercado. Pode ser difícil de se visualizar no inicio, porém, as coisas ficam mais claras ao se analisar a wedge em partes. A wedge é composta de duas partes principais, sua LT de resistência e sua LT de suporte. Estas duas LT delimitam o movimento da wedge. A wedge começa inicialmente como grandes movimentos, formando novos topos e fundos e facilmente pode ser confundida com um movimento natural do mercado, porém, um movimento padrão muito mais se assemelha a um canal paralelo e continuo, no caso da wedge o movimento é semelhante a de um triangulo, porém, com angulações diferentes entre as duas LT. O que isso implica? Simples. Ao longo que a wedge cria novos topos e fundos descendentes, há uma gradativa diminuição nas amplitudes dos movimentos. A cada novo topo e fundo, a wedge vai cada vez mais se afunilando com uma menor quantidade de candles e/ou tentativas falhas de quebra da LT de suporte ou resistência.
Como a definição de volatilidade é justamente a amplitude dos movimentos em um certo tempo gráfico, se estes se encontram decrescendo ao longo da wedge, logo a wedge aponta um ciclo de diminuição da volatilidade. Como sabemos que o mercado transita entre períodos de alta e baixa volatilidade, o afunilamento de uma wedge indica não só que o mercado está perdendo sua volatilidade, como também indica a aproximação de um grande movimento iminente, pois, quanto mais próximo ao "bico" da wedge, menos espaço o mercado possui para se mover entre as duas LTs e portanto, precisa quebra-las para um dos lados afim de continuar o seu movimento.
Contudo, devemos nos ater que uma wedge surge sempre durante uma tendência, seja ela uma curta ou uma longa tendência. Sendo assim, para a perpetuação de uma tendência é necessário o surgimento de topos e fundos ascendentes ou descendentes, porém, com amplitudes de movimento proporcionais aos anteriores, sendo assim, quanto menor as amplitudes de movimento da formação dos novos topos e fundos, mais fraca a tendência está. E é neste ponto que a wedge nos aponta o enfraquecimento e a reversão da tendência. A cada novo topo e fundo formado, temos uma diminuição constante da volatilidade do sistema, a cada novo topo e fundo, o mercado demonstra menores movimentos para a perpetuação da tendência.
Em termos de oferta e demanda, temos uma gradativa diminuição da oferta a cada novo topo, com os compradores lentamente aumentando a demanda, mas ainda não o suficiente para acabar com a tendência de baixa de imediato. Estas demandas vão se somando ao longo de toda a wedge, lentamente equalizando as forças até que ao final do afunilamento, os vendedores não possuem mais força para manter esta queda, enquanto os compradores se encontram em uma zona de oferta e demanda onde não há uma grande variação de preços devido a baixa volatilidade. A perda de força vendedora denotada pela equalização das forças compradoras e vendedoras, se traduz uma muito maior facilidade dos compradores de empurrarem o preço para cima, criando assim o rompimento da wedge.
Uma "bullish descending wedge" aponta um rompimento para cima (bullish) justamente porque, ao longo que a volatilidade vai diminuindo, temos a diminuição da oferta em mercado, com cada vez menos interesse vendedor o que se traduz nos movimentos mais e mais contidos e afunilados e sendo assim, é muito mais facil para os compradores empurrarem os preços, visto que eles possuem um grande suporte na LT de suporte da wedge, enquanto os vendedores já retestaram sua LT de resistência inúmeras vezes, porém, não possuem mais força o bastante para romper o suporte.
A mesma lógica se aplica à bearish rising wedge, porém, iniciada por uma tendência bullish e terminando num rompimento baixista (bearish).
Cuidados ao se tomar com a cunha:
Assim como qualquer indicador e padrão, a cunha não é garantida de sempre ser confirmada e apontar uma reversão da tendência. A presença e volume no rompimento do suporte/resistência deve sim ser levado em consideração antes de se realizar uma entrada. Contudo, no caso de uma wedge, rompimentos sem volume são sim comuns, devido a ela apontar um enfraquecimento gradativo de um dos lados do mercado e portanto, não há muita força opositora para impedir este movimento.
Operações baseadas em cunhas também conferem boas relações de risco retorno. Com uma entrada no rompimento, com um stop-loss posicionado na base da cunha (em caso de uma wedge menos esticada) ou abaixo do proximo toque no suporte da LT. Há diversas formas de se medir os possíveis alvos da wedge, seja sua amplitude maxima, média, minima, lateral ou diagonal... há uma infinidade de alvos possíveis de serem traçados. Para um boa relação de R/R, fracionar seus alvos é sempre o mais recomendado. Na imagem, é possível se perceber a confluência desta ação de preço em uma das trades que realizei:
Entrada no rompimento da wedge, alavancagem 10x, alvo máximo na amplitude máxima vertical da, stop-loss na base, R/R de 3,11. Como é visível, há sim uma grande confluência da ação de preço com os alvos da wedge, principalmente os alvos "comuns" delimitados pela faixa. Na duvida de qual será o alvo do rompimento, este sistema de alvos máximo, comum e mínimo pode ajudar e muito na tomada de decisão de sair ou não da operação.
Nunca opere uma cunha cegamente, sempre atrele indicadores que confirmem principalmente o rompimento de uma das LTs. Contudo, diferente de um OCO que possui uma chance de confirmação mais baixa, a cunha é um padrão gráfico de bastante confiança e em sua maioria das vezes, aponta sim uma confirmação, pois, ao contrario do OCO que é um padrão que pode ser formado por manipulações, a wedge aponta a perda gradativa de força de um dos lados do mercado e por isso, realiza diversos testes antes de alcançar o rompimento.
Quanto mais "horizontal" for a wedge, mais próxima a uma 'lateralização'' 50/50 o mercado se encontra. Uma wedge ideal, possui uma grande inclinação de uma de suas LT e uma baixa inclinação da LT restante. Porém, esta LT de baixa inclinação ainda se mantendo na direção da tendência, uma LT lateral demais já se aproxima de um triangulo e este possui uma lógica completamente diferente de uma wedge. Apontando fortalecimento para rompimento de um nível importante e não perda de força como a wedge. Fique atento a estes detalhes para não ser pego de surpresa.
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