Continuo apostando na baixa, porém mais atentoO petróleo me parece estar em uma excelente região de venda, com muita assimetria, mas com risco elevado devido às tensões que estamos vivendo. Há fundamentos para que o mercado vire para a alta, mas consigo ver fortes argumentos para apostar na tendência de baixa.
Toda commodity é precificada primeiramente pela oferta e pela demanda, que são os fatores que mais influenciam o preço. Olhando para os fundamentos do petróleo, temos uma oferta e demanda balanceadas, o que significa que esse não é o principal driver, pelo menos no momento.
Pensando nesse fundamento, precisamos considerar que o maior consumidor de petróleo do mundo, a China, está em um momento de retração, com uma economia que não cresce no ritmo de antes. Por isso, a Opep está decidindo manter a produção e aumentar os preços para os consumidores asiáticos. Inicialmente, isso traz um impacto altista para o preço, mas, no médio prazo, diminui o consumo e não se sustenta. Todavia, a restrição de oferta pela Opep abre espaço para que outros grandes produtores, como os Estados Unidos (e até o Brasil), supram a demanda, reduzindo o impacto da política da Opep na proporção desejada.
Dito isso, há dois fatores que fizeram o preço se distanciar da média e buscar o desvio estatístico, o que nos proporciona uma ótima oportunidade de venda:
Sazonalidade: Tempestades de inverno nos EUA fizeram os preços do gás aumentarem em mais de 10% nos últimos dias. Tudo que é sazonal passa, e espera-se que a tempestade se dissipe em breve, normalizando o consumo de gás.
Geopolítica: Trump está propondo tarifar o Canadá, o México e a China, que são grandes extratores e exportadores — e, no caso da China, também grandes consumidores de petróleo. Esse é o principal motivo da volatilidade exacerbada nos últimos dias. Compreendo que essa decisão vai, inicialmente, desestruturar a cadeia de suprimentos, criando um momento mais relevante para a extração de xisto nos EUA.
Aqui entra o ponto mais relevante: Biden tenta banir a extração de petróleo e gás em áreas fora da costa do Golfo do México, o que implica menos investimentos, menor oferta e um impacto negativo na balança comercial dos EUA. Enquanto isso, Trump promete aumentar o número de poços de extração, com slogans como "Drill, baby, drill", indicando que oferecerá estímulos ao setor.
Portanto, temos uma disputa política que impacta a oferta e, além disso, tarifas que dificultam ou encarecem a cadeia de suprimentos, resultando em alta nos preços. Contudo, no médio prazo, isso deve minar a demanda, tornando o petróleo menos utilizado e incentivando a substituição por outros produtos.
Não podemos esquecer dos riscos habituais relacionados às guerras envolvendo Rússia e Irã, pois novos fatos relevantes — como violações de acordos ou escalonamento de conflitos — frequentemente geram uma corrida para o petróleo como ativo de refúgio.
Concluo, assim, que a atual região de preços reflete como o mercado já precificou todos esses fatores mencionados. No momento, não vejo novos fatos que justifiquem uma alta sustentada, e, por isso, acredito que o mercado deve se reajustar. Estou operando a favor desse reajuste, buscando um retorno à média.
Considero muito improvável que Trump permita que as políticas de Biden interrompam suas ambições, assim como acredito que as tarifas impostas não devam gerar grandes disrupções na cadeia no curto prazo. A tempestade vai passar, e os preços se ajustarão.
Além disso, a região de venda também é técnica, baseada no primeiro desvio da regressão linear. A correlação de preços é decente, e o contrato é para abril.
Material de estudo:
Reuters: Oil hovers highest since Oct; cold weather, China stimulus
Reuters: Ample supply, slow demand temper oil price gains
FT: Future outlook for commodity prices
Reuters: Asia’s crude oil imports drop as weak China weighs
The Times: What the future holds for commodity prices