O dinheiro é você...O SpineDAO é a ponta de lança de um movimento mais amplo: transformar o corpo humano, especificamente a coluna vertebral, no novo campo de exploração de dados e controle biotecnológico. Por fora, parece um projeto médico revolucionário — uma DAO com foco em saúde, descentralização, IA e acesso igualitário ao cuidado cirúrgico. Mas se você observar com atenção, vai ver que a real ambição está muito além disso. A coluna é o eixo do corpo humano. Nela se ramificam os principais fluxos do sistema nervoso, da postura, do movimento e do equilíbrio entre cérebro e matéria. Quem domina a coluna, domina o corpo. E quem mapeia em tempo real o comportamento da coluna em milhões de indivíduos, tem acesso à leitura biométrica mais precisa da atualidade — postura, dor, tensão, desequilíbrio emocional, cansaço, resposta neuromotora. Tudo isso se converte em dado. E dado é a moeda mais valiosa do nosso tempo.
Por trás da narrativa de "melhorar decisões cirúrgicas com IA", o que temos é um sistema de vigilância biomecânica. Sensores de rastreamento como o projeto "TraCker", acoplados ao corpo de pacientes operados, enviam dados contínuos sobre recuperação, performance e movimentação. Parece medicina personalizada. Mas é também criação de um banco de dados comportamental em nível físico. Integrado à blockchain, esse dado não desaparece mais. Ele é imutável. Rastreável. Comercializável. Um corpo que se move é um corpo que gera insight para sistemas de seguro, para fabricantes de próteses, para plataformas de IA que querem prever lesões antes que elas aconteçam. E mais: para governos e megacorporações que sonham com controle social baseado em biometria profunda.
A promessa de acesso descentralizado e saúde pública camufla o plano real: centralizar o controle dos dados mais íntimos do corpo humano em um consórcio bioinformacional de agentes privados disfarçados de DAO. Essa DAO não nasceu espontaneamente. Ela foi financiada com mais de 200 mil dólares em poucas horas por investidores que sabem o que estão comprando: soberania sobre uma nova fronteira — o sistema músculo-esquelético da população. A intenção não é curar. É capturar. É antecipar comportamentos. É criar um novo tipo de passaporte médico-financeiro que conecta sua coluna ao seu score de crédito, à sua produtividade no trabalho, à sua capacidade de resistir ao estresse.
E se alguém acha que isso é teoria, observe o movimento de fusão entre IA, neurociência e vigilância contínua nas startups de saúde que explodiram nos últimos três anos. A Amazon, com o Halo. A Apple, com sensores de postura. O NIH, com programas de biomecânica preditiva. O SpineDAO é apenas a face descentralizada de um plano centralizador. A nova fronteira de controle não é mais o seu pensamento. É sua coluna. Porque dali se governa tudo: sua dor, sua mobilidade, sua capacidade de reagir. Eles sabem disso. E agora querem escalar isso. Em nome da medicina, claro. Sempre em nome do bem.
Rafael Lagosta.