Títulos americanos — deve ser daqui para baixoO mercado americano começa esse setembro no ritmo de corte de juros com dados macroeconômicos justificando o corte, e com um certo cenário de softlanding, olhando para a foto de hoje - minha opinião, e a confirmação disso está no preço do Título do Tesouro de 10 anos que atingiu o seu menor valor desde o liberation day (2 de Abril).
Para recapitular, quando o Trump veio a púpito mostrar quais seriam as tarifas, o mercado pirou. Nos primeiros dois dias após 2 de abril, 3 e 4, o mercado de títulos caiu, mas na fatídica segunda-feira 07, os treasuries subiram para ficar um bom tempo em preços altos. Neste dia, o T10 particularmente subiu 5% em variação diária, o que é bem expressivo para um ativo de segurança.
Isso é importante lembrar porque agora o título de 10 anos voltou ao mesmo nível de preço do dia 2 de abril - 6 meses depois.
Corte em setembro é base. Futuros de Fed funds apontam corte de 25 bps como cenário principal, com chance não nula de 50 bps após o payroll fraco. O preço do ouro já denuncia uma antecipação desse corte, reiterando mais ainda o embasamento do corte.
Mais de um corte em 2025 está no preço implícito (casas como BofA falam em dois cortes). Isso é consistente com a queda das taxas longas. Por isso, inclusive, devemos agora olhar mais para os cortes de outubro e dezembro.
A queda nos títulos reflete início de ciclo de afrouxamento + desaceleração de atividade; 30 anos carrega prêmio de prazo >10 anos (emissão/supply e incerteza de inflação de mais longo prazo).
O título de 30 anos não perdeu a região relevante de 4,75% (ainda) pois carrega toda a incerteza de longo prazo, bem como o peso das tarifas que ainda têm uma precificação incerta, se será derrubada ou se ficar em vigor.
Sobretudo, o que é importante vermos aqui é que olhando para a curva longa (10 e 30), o 10 está precificando mais rápido o otimismo, e o sinal do título de 30 anos reflete um otimismo real e duradouro. Isso quer dizer que por enquanto o investidor grande está cautelosamente otimista.
T-note
Deu a louca na renda fixa americanaPoisé, semana cheia de emoções, e talvez vimos um dos movimentos mais disruptivos em treasury recentemente que pode ter relação com fuga de capital dos EUA, visto a alta no Iene/Dolar e Euro/Dolar, mas vou começar pelo básico.
Os títulos americanos são basicamente pré fixados e pagam cupom semestral, isto é, quando você compra, você está atrelado aquela taxa de rendimento (yield) e recebera um pagamento semestral definido pela regra do tesouro (cupom). Caso seja familiar para você, é como nossa NTN-B.
Ativos de renda fixa tem uma volatilidade em seus preços um tanto previsível, principalmente se tratando de títulos públicos, mas cuidado, pois eventos macro-econômicos ou geopolíticos afetam a percepção de risco de estar apostando naquele país.
O que aconteceu com os Treasuries?
A percepção de risco dos investidores veio com o tarifaço do Trump, fazendo que os participantes do mercado percebecem um risco endógeno no futuro dos Estados Unidos cortando os laços completamente com a China.
Os títulos de longo prazo são mais sensíveis a fatores macro e consequentemtente mais voláteis, e vimos no dia 07/04 o mercado precificando risco país nos EUA. O que ninguem esperava era que veriamos um aumento de risco de contraparte no mercado de títulos. Os fundos que arbitram esse mercado precisaram estopar posições alavancadas o que ocasionou um movimento forte e direcional por falta de colateral.
Mas o mercado de renda fixa não era livre de risco?
Não existe mercado livre de risco. Até em casa você corre risco.
Títulos longos, como os de 30 anos, naturalmente incorporam um risco maior que os de curto prazo, uma vez que consideram um horizonte mais incerto e sujeito a eventos imprevistos. O investidor que compra um papel de 30 anos está, na prática, apostando na estabilidade do país por três décadas, um intervalo em que muita coisa pode mudar. Já os títulos de 10 anos têm uma previsibilidade relativamente maior.
E qual a chance de um colapso no mercaod de títulos?
Marignal, para ficar o pé no chão.
A hipótese de um colapso generalizado do mercado de treasuries é considerada improvável. Há interesses econômicos significativos, como os detentores estrangeiros Japão e China, que juntos somam quase US$ 2 trilhões em títulos e que atuam como “âncora de estabilidade” para o sistema. Um colapso significaria prejuízo bilionário para esses países, tornando implausível a ideia de que a China despejaria seus títulos apenas por retaliação política. Tal narrativa é besteira de influencer.
Adicionalmente, o próprio Tesouro e o FED possuem capacidade de intervenção por meio de compras emergenciais e operações de swap, como foi observado no episódio do SVB, onde o resgate girou entre US$ 400 e 500 bilhões. O balanço do FED caiu de US$ 9 trilhões para cerca de US$ 6,7 trilhões, demonstrando ainda haver espaço para ação.
É para se preocupar?
Sempre. Um colapço no mercado de titulos é, nessa imagem do momento, não realista — e isso é apenas a minha opinião.
No mais, já vemos a Casa Branca voltando atrás com medidas de tarifação recíprocra, dando pausa de 90 dias, e esse final de semana um ordem de redução nas tarifas específicas sobre Smartphones. O passo atrás é um alívio importante ao meu ver e em breve deve-se precificar um executivo dos EUA menos arrojado.