10yryields
Nos EUA o juros de 10 anos falam por siSenhoras e senhores, ninguém aqui escolheu isso e não há o que fazer, mas estamos finalizando um ciclo que se iniciou há quase quarenta anos atrás.
Nos anos 80 o mundo passava por um momento ou ciclo que vinha de tempos exuberantes pós 2a Guerra a até final dos anos 70. que de forma muito resumida se tratava do final do dito: space race, fim da guerra do Vietnã, e início da queda do regime Soviético, com forte aumento da globalização e intensificação das cadeias produtivas interligadas mundiais. O embargo do petróleo de 1973 foi o início do processo, a revolução iraniana depois, até 1981 levou petróleo a um nível de 5-10 dólares por barril aos na época assustadores 40 dólares o barril, e claro, inflação disseminada no mundo todo uma vez que em economia, oferta inelástica, move toda a curva para a esquerda em um cenário de demanda inalterada, nos presenteando com um P (preços) mais alto que antes. Inflação...
Resposta à época: alta dos juros nos anos 80 de forma forte e intensa para conter uma inflação teimosa (stubborn inflation). Paul Volker era o capitão no FED e endereçou o problema com a dose que foi necessária à época. Os juros literalmente voaram para 14% ou mais, e conseguiram o objetivo maior: segurar a inflação e dar o tempo necessário para os fatores de produção e tecnologias se ajustarem e aumentarem a produtividade marginal dos fatores de produção, que em bom português é: produzir mais com menos.
Hoje, finados de Abril de 2022, estamos com pressão de inflação que agora sim eu poderia falar com mais confiança que é algo a se preocupar. A maior economia do mundo, se analisada na lupa, como fiz acima, está com desemprego nos níveis mais baixos dos últimos 40 anos, nível de produtividade não mais está subindo, seguros desemprego nas mínimas de mais de 40 anos, poupança das famílias construída na quarentena, demanda reprimida, forte pressão via gastos fiscais do governo americano, um estoque gigante de emissão do FED....enfim rs...a Demanda Agregada está FORTE!
Vc pode não acreditar, mas dá para piorar, pois: Zona do Euro + Japão + Inglaterra/Canadá/Australia/NZelandia, o conhecido mundo desenvolvido, estão nos níveis de desemprego bem baixos, demanda forte, juros baixo, estoque alto poupança alta e enorme base monetária com juros zero há uns anos já!
Os juros vão subir no mundo todo! Não será num mês, mas um processo de meses e anos de altas e baixas e acomodações, adequações de produção que levarão os juro mundiais que em economia conjuntamente chamamos de juros internacionais, a um nível mais adequado para ajustar e arrefecer a inflação global.
Consequência: sou prático aqui é uma frase -----> queda da demanda mundial e suas implicações sobre toda produção mundial
- aumento do custo de crédito: do cartão de crédito, do micro peq e médio empresário, da grande empresa (mas ela tem musculatura), parcela de crédito de imóvel
- menos vendas de imóveis, queda volume de vendas produtos e serviços
- menos receita e custos de insumos apertados justificam demissões e procura por aumento na produtividade do trabalho
- aumento de desemprego e menor poder de barganha salarial
- queda dos preços no segundo momento que é o objetivo da alta de juros
- queda da arrecadação tributária fiscal
- apuros fiscal de países que não tem capacidade de emissão de dívida internacional como ocorreu na época que comparo nesse texto (plano Brady, crises da Argentina, Brasil, México, Rússia, Tigres Asiáticos)
A bolsa (SPX e outros) não performaram mal nesse período de soft landing americano (alta dos juros para debelar inflação sem machucar a atividade com recessão), o que é interessante é que performaram mal no período DURANTE a inflação alta (1973-74 queda de 40%, mas a janela de 73-80 de lado rendendo 0-10% período)! Após a alta de juros que corrigiu os eixos, a inflação saiu dos 14% ao ano para ~3% e acabou sendo ok à época, levando a uma forte alta do SPX de 1981 até Outubro de 1987 quando houve o Black Monday.
Enfim, seguimos aqui falando do que ocorreu, do que está ocorrendo agora, e vamos ver o que poderia ser para o ciclo seguinte, mas lembra que eu não tenho BOLA DE CRISTAL rs
Os pontos são importante aqui destacar porque me parece leviano dizer que podemos prever mesmo isso, a situação é outra agora:
-> Fed e outros bancos centrais atuam nitidamente em conjunto, se falam mais, e com a experiência passada não vão deixar a peteca cair como no passado. Os juros serão preemptivamente aumentados nos EUA, e outros, de forma que o saldo total de alta não seja tão alto quanto foi em 70-80.
-> Essa estratégia de saída feita corretamente pode levar as bolsas a ficarem um período menor de tempo em fase de STANDBY e queda menos brusca
-> Certamente projeto ruins vão ruir, mas a probabilidade de juros de 2 dígitos nos EUA, a demografia global atual, nível de produtividade e rapidez de tecnologias atuais, pode fazer a produtividade marginal se corrigir em menos tempo que antes e ajudar o lado da oferta
-> Emergentes também estão melhor preparados com estoque de Reservas Internacionais principalmente, o que pode suavizar o movimento, porém não livrá-los da fuga de capitais, e desvalorização de sua moeda. Economias exportadoras de commodities podem ter um cenário ambíguo em vista da forte balança comercial de exportações desses produtos, e num segundo momento se houver uma desaceleração forte econômica eles podem sofrer, mas num soft landing geral global nem tanto.
-> China é um player novo nesse novo ambiente, vem passando pela dificuldade nova neste ambiente que é a pandemia de covid. Só haverá estabilidade de lá num maior controle desse processo, o que levará ela de volta a sua trilha também de soft landing de atividade.
-> Sanções à Rússia acabam por ser algo que veio para ficar, até a mudança da postura das lideranças russas frente seu projeto de dominância regional
-> A mudança da matriz energética mundial, renovado interesse na energia nuclear vieram para ficar, assim como a tecnologia de baterias e principalmente um ciclo que ainda não pegou tração que é o da energia a hidrogênio, levará os patamares produtivos a novos níveis que no curto prazo (2-5 anos) será contribuinte à mais inflação, mas no longo prazo (10-20 anos) para um futuro mais sustentável.
O futuro é brilhante, a maioria dos líderes se preocupa com o mundo global e sustentável e podemos ver que vc DEVE ter isso em mente e fazer suas alocações corretamente: em alta de juros diminuir a duration, aproveitar queda de preço de empresas boas, proteger carteira da inflação e aproveitar a volatilidade a seu favor.
***Fiz uma linha de tendência de baixa para os juros de 10 anos americanos desde 1970 até hoje, e um analista técnico falaria: olha lá! rompeu com candle cheio de alta! E ele está certo!!! O fundamentalista também está nesse caso!!! Acho que confirma o movimento não?
Abraços, e lamento a janela de tanto tempo sem escrever :)
Lyu