Como o pânico nos mercados afetaram Portugal e a moeda do euro

As consequências do surto nos principais indicadores económicos ainda não são visíveis na maior parte dos países do mundo, no entanto os efeitos negativos do vírus na economia são agora uma certeza e a sua magnitude é ainda imprevisível. A OCDE reviu a previsão de crescimento para a zona euro, diminuindo-a em 0,3%, sendo também estas estimativas relativamente frágeis uma vez que é muito difícil quantificar a duração dos efeitos desta pandemia. No entanto, os mercados financeiros vivem de expectativas e o futuro, mais ou menos incerto, vai afetando o presente.

O pânico vivido nas últimas semanas nos mercados são consequência de vários dias em que o sentimento que prevaleceu foi o de uma enorme aversão pelo risco.

Os mercados acionistas são considerados de risco elevado e por isso tendem também a ser os primeiros a sofrerem fortes quedas em situações de maior turbulência. As perdas de cerca 20% nos principais índices norte-americanos, tem levado a um rápido “sell off” de dólares e à consequente desvalorização da moeda americana. Apesar do mesmo estar a acontecer na Zona Euro, o seu peso é relativamente menor e por isso é possível observar a moeda europeia a valorizar quando comparado com o dólar. Outro fator a contribuir para o ganho de valor do euro são as perspetivas relativamente às taxas de juro diretoras dos principais bancos centrais. Enquanto a maior parte dos bancos centrais mundiais têm ainda margem para diminuir a sua taxa de juro (uma vez que estão ainda longe do seu limite mínimo de 0%), o Banco Central Europeu já não tem muito para onde ir. No fundo, o fosso que se vai estreitando entre as diversas taxas de juro e aquela definida pelo BCE tornam o euro mais atrativo.

Em Portugal, a tendência no mercado acionista é muito semelhante sendo também possível observar o seu principal índice de referência, o PSI-20 a desvalorizar mais de 20% nas últimas duas semanas. Todas as cotadas têm perdido valor e com o baixo preço do petróleo, a Galp tem sido a grande sacrificada.

É também muito interessante olharmos para o mercado de dívida na medida em que se pode compreender aquilo que nos pode esperar no futuro. Em particular, enquanto a yield das obrigações do tesouro a 30 anos tem vindo a diminuir estando agora a cotar a 1,038%, os juros das maturidades mais curtas têm subido. Uma curva das yields menos ingreme indica-nos que estamos mais próximos de uma recessão ou pelo menos de um longo período de estagnação económica.

Frederico Aragão Morais, Analista de mercado da TeleTrade-DJ International Consulting
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