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Vale projeta produção de 310-320 mi t de minério de ferro em 2023 e ações caem

A mineradora Vale VALE3 anunciou nesta quarta-feira que prevê produzir de 310 milhões a 320 milhões de toneladas de minério de ferro em 2023, volume próximo do visto em 2022, e suas ações caíram mais de 4%, com investidores avaliando um reforço da estratégia da empresa de focar mais em valor do que em quantidade.

A estimativa para o encerramento deste ano ficou no limite inferior do intervalo de produção previsto para 2022, que era também de 310 milhões a 320 milhões de toneladas e abaixo do registrado em 2021, quando a companhia produziu 315,61 milhões de toneladas de minério de ferro.

"No geral, vemos a meta revisada como marginalmente negativa para a Vale..., mas positiva para o minério de ferro", disseram analistas do JP Morgan em nota a clientes.

As projeções, explicaram os executivos da Vale a investidores, ocorrem enquanto a mineradora trabalha para oferecer produtos de maior valor agregado, com maiores prêmios, e soluções que permitam menos emissões e mais qualidade, inclusive para seus clientes.

"Vamos ganhar mais dinheiro dessa forma do que produzindo 400 milhões de toneladas de minério de ferro de baixo teor", disse o presidente Eduardo Bartolomeo, ao participar de evento anual sobre estratégia com investidores em Nova York, chamado Vale Day.

O executivo reiterou que preocupações constantes com as emissões de carbono levam as siderúrgica a buscar minérios de maior qualidade.

Planos passados da Vale previam que a empresa já teria atingido produção de 400 milhões de toneladas em anos anteriores.

"Não é uma questão apenas de valor sobre volume, é muito mais valor sobre volume do que no plano anterior", frisou o vice-presidente executivo de Ferrosos da companhia, Marcello Spinelli. "Estamos nos transformando em uma empresa de soluções para minérios."

O foco em minério de ferro, reiterou a companhia, tem sido "em melhorar a qualidade gradualmente", enquanto recupera a capacidade em Minas Gerais, reduzida diante de revisões necessárias de segurança após o rompimento mortal de barragem em Brumadinho, em janeiro de 2019.

Uma das maiores produtoras globais de minério de ferro, a companhia também vem enfrentando restrições de licenciamento em Serra Norte, o que a levou a revisar o plano de produção.

A companhia acrescentou que prevê investimentos de 6 bilhões de dólares em 2023, contra 5,5 bilhões neste ano. A média anual de aportes para o período entre 2024 e 2027 será de 6 bilhões a 6,5 bilhões de dólares.

Os compromissos com os desastres com barragens de mineração nas cidades mineiras de Brumadinho e Mariana vão somar em 2022 2,8 bilhões de dólares, subindo a 3,9 bilhões de dólares em 2023, para depois cair para 2,9 bilhões em 2024 e 1,8 bilhão em 2025 e 2026.

As ações da empresa caíam mais de 4% no final da tarde desta terça-feira, também pressionadas pelos preços mais baixos do minério de ferro na China, tornando-se uma das maiores quedas no Ibovespa IBOV, que caíam 0,95% por volta das 16h15 (horário de Brasília).

CENÁRIOS

Mineradoras globais devolveram bilhões de dólares aos acionistas nos últimos dois anos, graças aos fortes preços das commodities. Mas a alta inflação, a perspectiva de uma recessão global e as dúvidas sobre a demanda na China, o maior consumidor mundial de matérias-primas, podem afetar os lucros futuros.

"Assim como o restante do histórico recente do setor, a atualização de guidance da Vale é decepcionante", disseram analistas do RBC. "Custos mais altos, produção mais baixa e investimentos mais altos trabalharão para reduzir as estimativas de consenso."

Com foco em obter maiores prêmios a partir de seus produtos, a Vale prevê teor médio de ferro de 62,3% neste ano, 62,9% em 2023, 63,5% em 2026 e 64% em 2030 em diante.

O vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores, Gustavo Pimenta, afirmou que os preços do minério terão ainda impactos positivos em 2023, à medida que a China relaxa suas políticas de Covid e o mercado imobiliário do país se estabiliza.

Analistas do RBC, no entanto, apontaram que "a estratégia de valor sobre volume da Vale em um ambiente de superávit pode passar por mais escrutínio, especialmente porque outras grandes empresas se afastaram dessa política".

Para 2026, a previsão da companhia é produzir no intervalo de 340-360 milhões de toneladas e, em 2030, acima de 360 milhões de toneladas.

Já do lado de pelotas e briquetes, a Vale estima atingir produção de cerca de 100 milhões de toneladas a partir de 2030, contra 33 milhões neste ano, 36-40 milhões em 2023 e 50-55 milhões em 2026.

METAIS BÁSICOS

Os executivos da Vale informaram ainda planos de atrair um sócio para deter até 10% de seu negócio de metais básicos, como forma de agregar valor.

Conforme novas estimativas publicadas nesta quarta-feira, a produção de níquel da Vale deve atingir 160-175 mil toneladas no próximo ano, contra 180 milhões estimados em 2022 e 168 mil toneladas em 2021.

Já a produção de cobre deverá ficar em 335-370 mil toneladas em 2023, ante 260 mil estimados para 2022 e 296,8 mil toneladas em 2021.

A Vale mantém acordos para fornecer níquel à Tesla TSLA, Ford Motor F e à startup sueca de baterias Northvolt, e recentemente fechou um acordo para se tornar também fornecedora da General Motors Co GM.

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