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Ex-traders de Dreyfus e NovaAgri fomentam orgânicos do Brasil e veem salto em poucas safras

Quando ex-traders da Louis Dreyfus e da NovaAgri decidiram fundar a empresa de proteínas orgânicas Raiar, eles sabiam que antes do ovo e da galinha vinham os grãos, e se juntaram em uma série de iniciativas de fomento à cadeia produtiva que deve resultar em breve em um aumento "exponencial" do mercado brasileiro de soja e milho para alimentar criações e exportações.

O mercado de grãos orgânicos é ainda muito incipiente no Brasil, representando 0,02% da produção total de soja e milho do país, disse Luis Barbieri, sócio-fundador da Raiar Orgânicos e ex-diretor da Louis Dreyfus. Contudo, não é só por ser pequena que essa oferta pode ser multiplicada por 20 em pouco tempo, opinou ele.

Conectada à demanda de consumidores por produtos mais saudáveis, a práticas agrícolas sustentáveis e alternativas — que hoje já reduzem custos de agricultores tradicionais, com o uso dos bioinsumos--, a agricultura de grãos orgânicos recebe prêmios de 30% sobre os preços da soja e o milho não orgânicos, um estímulo para a atividade.

"Hoje é um traço (a representatividade da produção orgânica frente à tradicional, que usa insumos químicos). Achamos que com a tecnologia avançando, com a demanda conectando, essa produção pode multiplicar por 10, 15, 20, em três a cinco anos. Para passar de 0,02% a 0,2%, não é um negócio de maluco", disse Barbieri.

A produção de soja e milho orgânicos do Brasil hoje gira em torno de 60 mil toneladas, o equivalente ao que transporta um navio na exportação, enquanto a safra total desses dois grãos no país está estimada em cerca de 280 milhões de toneladas.

"Acredito que a curva de crescimento é exponencial, à medida que avançamos", acrescentou Barbieri, que tem entre os sócios Marcus Menoita, que atua como CEO da Raiar e foi fundador da NovaAgri.

Leandro Almeida, ex-executivo da trading NovaAgri vendida à Toyota, também é um dos donos da Raiar, fundada em 2020 e que começou a comercializar ovos orgânicos em maio de 2022, atendendo a um mercado que cresce a dois dígitos anualmente.

O ovo orgânico, entretanto, representa 0,3% da produção da proteína no Brasil atualmente, enquanto nos Estados Unidos gira em quase 7% e em alguns países da Europa entre 20% e 30%.

Isso também não é apenas um indicador do potencial de crescimento local da produção de ovos, que depende do abastecimento de grãos orgânicos para a alimentação das galinhas. Até porque há um mercado externo a ser explorado pelo país.

"Os Estados Unidos, maiores exportadores de grãos junto com o Brasil, importam quase 1 milhão de toneladas de soja, milho e farelo de soja (orgânicos), e começamos a ver que a demanda dos americanos cresce mais rápido do que a capacidade de converter a lavoura", exemplificou, citando que a Europa também tem uma cadeia produtiva mais desenvolvida, mas também importa.

Segundo o fundador da Raiar, que atua na cadeia de grãos orgânicos como cerealistas e tradings fazem no mercado tradicional, dando suporte financeiro desde a compra de insumos, certificação e logística, é preciso "polinizar" o setor.

Para isso, a empresa idealizou a rede Folio, de apoio a produtores de grãos e à pesquisa de orgânicos, que se encontra em fórum em Avaré (SP) na próxima quarta-feira, com convidados internacionais, como representantes das norte-americanas Perdue (produtora de proteína animal) e Gebana (comercializadora de grãos).

CUIDAR DO SOLO

"Vemos que o orgânico é a tecnologia para a agricultura do futuro, tudo o que vemos hoje de avanço na agricultura está alinhado com as práticas da agricultura orgânica que pregam que a primeira coisa para cuidar da lavoura é o solo", disse.

A agricultura orgânica, que preserva os microorganismos na terra, permite o desenvolvimento de plantas mais fortes, menos sujeitas a doenças, disse Barbieri, ponderando que há desafios em relação ao ataque de ervas daninhas, já que o setor de orgânicos ainda não desenvolveu técnicas ou herbicida que não seja químico.

Originalmente, a cadeia produtiva de grãos orgânicos no Brasil estava mais concentrada no Estado do Paraná, mas a empresa busca fomentar produtores em São Paulo, onde está sua fazenda, além de Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais.

As aves criadas pela Raiar, todas livres de gaiolas, estão distribuídas em uma área de 170 hectares em Avaré, onde a empresa já investiu 100 milhões de um total de 200 milhões de reais projetados.

A ideia é dobrar o número de galinhas alojadas até o final do ano que vem para 160 mil unidades, mas a fazenda tem espaço e estrutura industrial para lidar com até 700 mil aves, todas pastando livremente em ambiente que proporciona maior bem estar animal, também uma tendência forte na Europa diante das exigências dos consumidores.

O faturamento previsto pela Raiar para 2023 é 30 milhões de reais.

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