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Altas de juros do Fed devem desacelerar, mas ajuste econômico apenas começou, diz Powell

O chair do Federal Reserve, Jerome Powell, disse nesta quarta-feira que é hora de desacelerar o ritmo dos próximos aumentos da taxa de juros, ao mesmo tempo que sinalizou um ajuste econômico prolongado para um mundo onde os custos dos empréstimos permanecerão elevados, a inflação cairá lentamente e os Estados Unidos permanecerão cronicamente com falta de trabalhadores.

Em uma sessão de comentários e perguntas preparada na Brookings Institution, que durou uma hora --sua última aparição agendada antes da próxima reunião do banco central em duas semanas-- Powell deu uma mensagem de curto prazo que fez os mercados dispararem: O Fed está "desacelerando " em relação ao ritmo vertiginoso de incrementos de 0,75 ponto percentual nos juros que prevaleceram desde junho, e analisará o caminho para a taxa de juros máxima necessária para reduzir a inflação para a meta de 2% do banco.

Mas ele também delineou mudanças de longo prazo que podem estar em andamento --na oferta de mão de obra em particular-- que podem sinalizar um longo período de elevados custos dos empréstimos e inflação que responde apenas lentamente à política monetária restritiva do Fed.

Ao mesmo tempo, ele rejeitou a ideia de que o banco central estava tão empenhado em acalmar a maior inflação em 40 anos que as autoridades iriam "quebrar" a economia nesse esforço, insistindo que um pouso "suave ou quase suave" continuava a ser possível, com a inflação podendo cair sem um aumento dramático no desemprego.

"Nós não... tentaríamos quebrar a economia e depois limpar a bagunça", disse Powell, com os formuladores de política monetária esperando não "apertar demais... porque achamos que cortar a taxa básica não é algo que queremos fazer logo. É por isso que vamos desacelerar e tentar encontrar o caminho para esse nível certo" que reduz a inflação ao longo do tempo.

Powell reconheceu que um mercado de trabalho apertado terá de ser equilibrado principalmente por ações do Fed que reduzam a demanda por trabalhadores --seja por meio de uma queda nas vagas de emprego disponíveis ou, como alguns temem, um avanço no desemprego.

"Acho que, por enquanto, temos que presumir" que a oferta de mão de obra não se recuperará, disse Powell. "Temos que fazer o que for preciso para restaurar o equilíbrio no mercado de trabalho para voltar à inflação de 2%... na verdade, apenas desacelerar o crescimento do emprego, em vez de tirar as pessoas do trabalho."

"LONGO CAMINHO A PERCORRER" Os comentários de Powell sobre uma redução iminente no ritmo dos aumentos das taxas desencadearam uma recuperação robusta nos mercados de ações e títulos, que sofreram um golpe este ano devido aos aumentos agressivos das taxas do Fed.

O índice de referência S&P 500 SPX disparou para território positivo e fechou em alta de cerca de 3%, e os rendimentos dos Treasuries, que se movem na direção oposta a seus preços, caíram.

O retorno da nota de dois anos (US2YT=RR), o vencimento mais sensível às expectativas da taxa básica do Fed, recuou de 4,52% para 4,37%. O dólar DXY enfraqueceu contra uma cesta de moedas fortes.

Ainda assim, e apesar da desaceleração iminente no ritmo de ajuste dos juros, Powell disse que questões-chave sobre a política monetária do Fed permanecem sem resposta, particularmente sobre "quanto mais precisaremos subir os juros para controlar a inflação, e o período de tempo que será necessário manter a política (monetária) em um nível restritivo." Embora o chefe do Fed não tenha indicado sua estimativa para a "taxa terminal", Powell disse que provavelmente será "um pouco mais alta" do que os 4,6% indicados pelas autoridades em suas projeções de setembro.

Ele disse que curar a inflação "exigirá manter a política monetária em um nível restritivo por algum tempo", um comentário que parece ir contra as expectativas do mercado de que o banco central pode começar a cortar os juros no ano que vem, à medida que a economia norte-americana desacelera.

A resposta do Fed ao surto mais rápido de inflação nos EUA em 40 anos, no entanto, não causou nenhum impacto convincente sobre o salto dos preços. Powell disse que as estimativas de inflação do Fed em outubro mostraram que sua medida preferencial ainda está subindo, rondando o triplo da meta de 2% do banco central.

Powell ressaltou que, embora a inflação de bens esteja em queda, o custo da habitação provavelmente continuará a subir no próximo ano, enquanto importantes indicadores de preços para serviços permanecem elevados e o mercado de trabalho, apertado.

"Apesar de alguns desdobramentos promissores, temos um longo caminho a percorrer para restaurar a estabilidade de preços", disse. "Vamos manter o curso até que o trabalho seja feito."

((Tradução Redação Brasília)) REUTERS VB LB

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