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Grandes bancos reforçam expectativa de redução da Selic só perto do final do ano após Copom duro

O comunicado mais duro do que o esperado do Banco Central em sua reunião de política monetária reforçou a visão de grandes bancos e outras instituições financeiras de que reduções na taxa Selic ficarão para o segundo semestre do ano, possivelmente só no final desse período, mesmo diante da pressão do governo por cortes de juros.

Na véspera, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC manteve a Selic em 13,75% ao ano e não deu indícios de planejar cortá-la em breve. Pelo contrário, o texto divulgado ao fim da reunião reafirmou que o colegiado poderá retomar as altas na Selic se necessário para reduzir a inflação.

Apesar da indicação mais austera, na manhã desta quinta-feira o mercado de juros futuros chegou a embutir um corte de 0,25 ponto percentual na Selic já na reunião de junho do Copom (BCBWATCH), antes de as expectativas mudarem para uma redução de 0,50 ponto em agosto. Mas bancos globais e casas financeiras brasileiras de peso não compraram em nenhum momento a visão de afrouxamento já no próximo trimestre.

"O comunicado reforça nossa visão de que o afrouxamento da política monetária ocorrerá apenas em novembro", disse o JPMorgan em relatório, embora tenha citado os recentes problemas no setor bancário internacional --após o colapso de bancos nos EUA e um resgate forçado do Credit Suisse na Europa-- como um risco para essa projeção.

Na mesma linha, Citi e Itaú acreditam que o Banco Central só poderá iniciar um processo de redução dos custos dos empréstimos no último trimestre de 2023, com estimativas de que a Selic fique, respectivamente, em 12,25% e 12,50%.

"A menos que vejamos uma mudança significativa no conjunto de informações que possa reduzir significativamente as estimativas de inflação, não vemos espaço para o Copom iniciar os cortes de juros no segundo trimestre de 2023, conforme atualmente embutido na curva de juros", avaliou o Citi em relatório.

Entre as instituições de cenários mais agressivos, a XP sequer espera cortes de juros neste ano, mantendo em seu cenário base projeção de que a Selic seguirá nos atuais 13,75%.

Somente se a economia desacelerar mais do que o esperado devido aos riscos financeiros globais recentes seria possível observar um ciclo de cortes graduais dos juros a partir do segundo semestre de 2023, disse a instituição em relatório.

Enquanto isso, UBS BB, Goldman Sachs e Bradesco projetam o início de um processo de afrouxamento monetário a partir do segundo semestre, com o primeiro mantendo expectativa de corte de 0,50 ponto percentual dos juros no final do terceiro trimestre, em setembro.

Já o Goldman Sachs --que não especificou em que mês da segunda metade do ano virão seus estimados cortes da Selic-- alertou em relatório que, "devido às perspectivas incertas da política fiscal e às expectativas de uma inflação à deriva, uma espera mais longa para começar a afrouxar é uma possibilidade".

O credor norte-americano disse ainda que a credibilidade do Banco Central foi "reforçada pela mensagem clara e focada" do comunicado de política monetária de quarta-feira.

"Apesar da intensa pressão política, o Copom parece totalmente focado na busca de restabelecer as expectativas de inflação e no cumprimento de seu mandato fundamental de levar a inflação ao redor da meta por um período de tempo razoável", escreveu Alberto Ramos, diretor do grupo de pesquisas econômicas para América Latina do Goldman Sachs.

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem criticado constantemente a conduta da política monetária pelo BC, alegando que não há justificativas para o nível elevado da Selic e que as condições apertadas minarão o crescimento econômico e a oferta de crédito. Isso por sua vez, tem causado turbulências no mercado financeiro.

Finalmente, o Bank of America, instituição com uma das projeções mais baixas para o patamar da Selic ao final de 2023, reconheceu os riscos de um adiamento do processo de afrouxamento monetário. O banco manteve a projeção de Selic de 11% ao fim de 2023, com início de sua redução já em maio, mas citou "maiores riscos de isso ser adiado, dado o tom do comunicado" do Copom.

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