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Com os BRICS fechando as portas para Maduro, há esperança para a economia venezuelana?

With BRICS turning away from Maduro, what’s next for Venezuelan economy?

O governo venezuelano, sob o comando de Nicolás Maduro, expressou seu profundo descontentamento na quinta-feira após a decisão do Brasil de bloquear sua admissão no grupo BRICS de economias emergentes.

Caracas vê esta decisão como uma “ação hostil” e uma forma de “agressão” contra os seus interesses, dado que a Venezuela tem lutado durante anos para se juntar a esta coligação.

Em uma declaração formal, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela condenou o veto como um reflexo de “ódio, exclusão e intolerância fomentados pelas potências ocidentais” com o objetivo de impedir a nação de fazer parte da organização.

Aumento das tensões entre Venezuela e Brasil dentro do BRICS A declaração continuou, afirmando que “esta ação representa uma ofensa contra a Venezuela e se soma às sanções injustas impostas a um povo corajoso e revolucionário.

Nenhum esquema ou estratégia que vise minar a Venezuela mudará o curso da história.”

Além disso, o governo de Nicolás Maduro afirmou ter recebido apoio de outros países na cúpula da Rússia para avançar na integração da Venezuela a essa iniciativa.

O governo brasileiro, sob Lula da Silva, foi um dos mais fortes aliados de Nicolás Maduro na América Latina, mas recentemente demonstrou preocupação com os direitos humanos na Venezuela e uma forte postura contrária ao resultado das eleições de julho no país.

Tudo isso levanta questões sobre o futuro político e econômico da Venezuela, se Maduro continua no poder e se os Estados Unidos decidem reforçar as sanções contra o país.

Dinâmica energética: posição do Brasil sobre a entrada da Venezuela no BRICS

O cenário energético do Brasil, impulsionado em grande parte por seus recursos de hidrocarbonetos, desempenha um papel significativo em sua hesitação em relação à entrada da Venezuela no grupo BRICS.

Nos últimos dez anos, o Brasil viu um aumento notável na produção de petróleo, aumentando em 64%, ultrapassando 3,6 milhões de barris por dia no final do ano passado.

Entretanto, em 2024, houve uma ligeira queda para cerca de 3,4 milhões de barris por dia.

Apesar desse pequeno declínio, o Brasil continua sendo o maior produtor de petróleo bruto da América Latina.

Em forte contraste, a Venezuela sofreu um declínio acentuado em sua produção de petróleo, despencando aproximadamente 65%, de mais de 2,7 milhões de barris por dia para cerca de 943.000 barris por dia.

Essa queda significativa fez com que a Venezuela perdesse sua posição de longa data como principal produtora de petróleo da região, conforme observado pela mídia local Petroguía.

No lado comercial, o Brasil aumentou drasticamente suas exportações de petróleo bruto e derivados para os Estados Unidos, multiplicando seu volume por quatro ao longo da década.

No final de 2023, essas exportações atingiram o pico de 400.000 barris por dia, garantindo ao Brasil o lugar entre os cinco maiores fornecedores de petróleo para os EUA — uma lista que inclui Canadá, México e Arábia Saudita, colocando-o em competição direta com a Venezuela.

Os BRICS têm mais a ver com estratégia geopolítica do que com benefícios econômicos?

O economista Henkel García, da Econométrica, sugeriu em um relatório anterior da Invezz que a busca da Venezuela pela adesão ao BRICS tinha mais a ver com estratégia geopolítica do que com benefícios econômicos imediatos.

Ele observou que o foco parecia estar em obter apoio dos países do BRICS para fortalecer alianças em meio às mudanças na dinâmica global.

García também destacou que manobras geopolíticas, como o alinhamento com países em desacordo com os EUA, como Rússia ou Coreia do Norte, podem ter ramificações significativas além de meras considerações econômicas.

Enquanto isso, o economista venezuelano Alejandro Grisanti estava cético sobre os benefícios práticos da adesão ao BRICS para a Venezuela.

Ele argumentou que os membros do BRICS são caracterizados por suas grandes economias e populações, critérios que a Venezuela não atende.

Grisanti comparou a economia da Venezuela à da República Dominicana e sua população à do Panamá e da Costa Rica, questionando o potencial impacto econômico da adesão ao BRICS.

O esforço da Venezuela para ingressar no BRICS, impulsionado por suas reservas de petróleo e alianças estratégicas, destaca uma interação complexa de geopolítica e aspirações econômicas.

Isso indica que a adesão ou não da Venezuela ao BRICS não resultará em uma grande mudança econômica.

Isso também implica que, para a Venezuela melhorar seus investimentos e seu cenário econômico geral, o país deve primeiro resolver sua crise política.

Um olhar mais atento às relações políticas entre Brasil e Venezuela

O analista político e consultor eleitoral Aníbal Sánchez explorou os fatores complexos que influenciam o relacionamento entre Brasil e Venezuela.

Ele destacou o potencial para laços mais fortes entre os dois países, principalmente com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva intervindo como mediador.

Sánchez também discutiu os desafios decorrentes das recentes decisões políticas do Brasil, especialmente à luz de seu papel no grupo BRICS.

Ele enfatizou a complexa mistura de questões em jogo, incluindo disputas territoriais e o apoio do Brasil a diferentes facções dentro da Venezuela.

Nesse cenário diplomático em constante mudança, a abordagem do Itamaraty dentro do BRICS destaca a natureza essencial da confiança mútua entre os países vizinhos.

Sánchez observa que a erosão da confiança devido a compromissos não cumpridos após as eleições venezuelanas impactou a tomada de decisões do Brasil e sua resistência contínua às políticas venezuelanas.

À medida que o Brasil e a Venezuela viram uma nova página sob o governo do presidente Lula da Silva, há sinais claros de esforços para consertar as relações diplomáticas no cenário global, indicando um objetivo compartilhado de promover a estabilidade e a cooperação na região.

Sánchez destaca que os interesses do Brasil vão além do petróleo, refletindo uma dedicação mais ampla à estabilidade regional e ao posicionamento estratégico ao navegar por essas dinâmicas complexas.

Na cúpula do BRICS realizada em Kazan, o governo venezuelano manifestou sua condenação à decisão do Brasil de bloquear sua entrada no grupo, descrevendo a ação como “agressão e gesto hostil” em nota oficial.

“Ao mesmo tempo, o presidente Maduro estava ocupado em discussões estratégicas com o oficial iraniano Masoud Pezeshkian, com o objetivo de negociar acordos bilaterais focados em petróleo, mineração e saúde, ao mesmo tempo em que destacava uma narrativa de forte solidariedade com Teerã”, disse Sánchez.

Em uma demonstração de apoio, o presidente russo Putin elogiou a Venezuela como um parceiro confiável e de longa data tanto na América Latina quanto no contexto global mais amplo.

Durante reuniões com líderes notáveis como Xi Jinping da China, Narendra Modi da Índia e Recep Tayyip Erdoğan da Turquia, o presidente Maduro enfatizou o papel da Venezuela como um aliado importante fora da influência ocidental, mostrando seu potencial como um importante player energético.

Essa mudança diplomática coloca a Venezuela em um caminho político único que a diferencia de outras nações sul-americanas, como Argentina ou Panamá.

Parece estar caminhando para laços mais estreitos com o México e a Colômbia, graças à sua posição geográfica vantajosa no continente.

Esses acontecimentos levantam questões importantes sobre as estratégias de política externa do novo governo dos EUA, gerando a necessidade de repensar as prioridades relacionadas aos interesses nacionais, especialmente à luz de questões como migração descontrolada e preços flutuantes de combustíveis.


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