Indicadores da Alemanha indicam recessão.Hoje vimos nos mercados indicadores expondo uma alta de mais de 160% nos preços de importação de ENERGIA na ALEMANHA devido ao corte de fornecimento da Russia e alta superior a 300% no preço do GÁS NATURAL. Além disso, o setor de varejo alemão esta cada vez menos aquecido, e assim, isso nos indicando que diversas empresas alemãs vão apresentar relatórios negativos em lucratividade, receitas e cortes significativos no orçamento e menos contratações e produção, indicando projeções menores de crescimento para os próximos meses.
Como complemento a isso, vimos a Balança Comercial alemã com um resultado muito abaixo do esperado e muito abaixo da prévia, sinalizando uma fraqueza na economia e os impactos de um EURO valendo menos do que o DÓLAR. Por fim, o BCE já postulou uma alta significativa nos JUROS e isso vai pressionar ainda a contração na economia alemã. Não obstante, o considerável envolvimento da UE na guerra entre RÚSSIA e UCRÂNIA aflora ainda mais o sentimento de AVERSÃO AO RISCO no mercado europeu.
Bancos como Rabo Bank e Standard Chartered projetam um PREÇO-ALVO entre 0.95 e 0.94 para o EURO frente o Dólar, e o ING BANK espera ver a moeda europeia cotada em 0.90 frente o Dólar Americano. Todas essas projeções alinhadas na expectativa de que isso ocorra entre 1 e 3 meses. Com o câmbio caro, isso dificultaria ainda mais as importações que empresas em solo europeu necessitam para realizar os seus negócios, e com isso demonstrado nos relatórios aos seus acionistas, provavelmente os deixaram preocupados a ponto de liquidar suas posições em ações.
Portanto, essa breve visão justifica minha visão de BAIXA.
BCE
O que esperar o BCE?Que o BCE vai subir a taxa de juros, não é novidade, porém não será nessa reunião, mas sim em Julho. O ponto principal que o mercado aguarda é a fala da Presidente do Banco Central Europeu, a Cristine Lagarde.
A pressão dos preços do setor de Energia, impulsionados pelas decisões da OPEP e pelo conflito no leste Europeu, pioram e pressionam cada vez mais o BCE a ser mais duro com os Juros. Se isso não bastasse, o preço dos alimentos também pressionam por conta do conflito, uma vez que a Europa é majoritariamente importadora de alimentos.
O perfil Dovish da Lagarde preocupa os investidores que estão esperando por um posicionamento mais duro do BCE, para um combate mais eficiente contra a inflação. Além disso, também espera-se o anuncio do fim do pacote de estímulos na Europa que foi usada para recuperar o bloco após o Covid.
Tendo isso em vista, todos os holofotes se voltam para a comitiva de imprensa, onde os investidores conseguem entender qual serão os próximos passos do BCE e assim conseguir planejar seus investimentos. Os grandes players precisam de previsibilidade, quanto mais incertezas, pior para os preços.
Qualquer comunicado dovish deve impulsionar o mercado para baixo.
Um posicionamento mais hawkish deve mostrar serviço e animar os investidores, impulsionando o mercado para cima.
Muita atenção para hoje.
O mercado de crédito e o limite da política monetáriaÀ medida que a segunda vaga do vírus se vai alastrando e podendo eventualmente conduzir a um novo abrandamento da atividade económica, os participantes no mercado de crédito europeu vão dando alguns sinais da sua preocupação.
O último inquérito aos bancos comerciais realizado pelo banco central europeu (BCE) indica que se procedeu a um agravamento significativo das exigências de crédito neste terceiro trimestre. Aparentemente, a sua principal causa é a perceção do risco por parte dos bancos relativamente ao futuro estado da economia e não propriamente como consequência da sua própria condição financeira. Os bancos estão, acima de tudo, preocupados com a capacidade dos agentes económicos fazerem face aos seus empréstimos caso a recuperação económica sofra um revés. O BCE informa que a taxa de rejeição de pedidos de empréstimo aumentou tanto para as empresas como para as famílias, e que o volume de créditos bancários malparados pode até triplicar num cenário pessimista.
A reação das empresas e das famílias
No entanto, não é só a oferta a não querer emprestar, mas também o lado da procura – e em especial, as empresas – a não ter interesse em pedir emprestado. Isto deve-se essencialmente ao seu fraco investimento bem como à diminuição das necessidades de liquidez. Segundo o inquérito, cada vez mais empresas estão satisfeitas com as suas posições em caixa e por isso também menos preocupadas com possíveis ameaças.
Do lado das famílias, o BCE também encontrou um agravamento da solvabilidade das famílias como consequência da crise. Apesar disso, ainda se registou um aumento da procura de crédito no terceiro trimestre. Esse aumento poderá ter sido, por ventura limitado, uma vez que o BCE espera que a procura enfraqueça no quarto trimestre, à medida que as condições de crédito se tornam ainda mais apertadas e as condições do mercado de trabalho se detoram.
A realidade é que as posições tanto por parte dos bancos como dos agentes económicos, dificultam a ação do BCE. Existe, no fundo, um limite para aquilo que a política monetária pode fazer.
Os depósitos bancários das famílias aumentaram ao ritmo mais rápido em 12 anos, sinalizando que aumentar a base monetária pouco faz se o dinheiro ficar no banco. A ação política mais relevante seria a de optar por um maior estímulo orçamental – tal como a liderança do BCE, Fundo Monetário Internacional e OCDE assim recomendaram. Até certo ponto isto até está a acontecer. Alguns governos da Zona Euro decidiram estender os seus subsídios ao mercado de trabalho para além do final deste ano. E já não há de faltar muito para que o orçamento do fundo de recuperação europeu chegue então aos cofres dos Estados Membros.
Helicopter Money: se não for agora, alguma vez será?Na semana passada escrevia sobre a possibilidade destas medidas de expansão monetária e fiscal não passarem apenas de ações de sobrevivência com pouco valor acrescentado e estímulo económico. Do lado da procura, as pessoas têm agora uma vida menos ativa e com a incerteza relativamente ao futuro acabam por consumir menos; enquanto do lado da oferta, por mais baixos que sejam os juros, empresas com problemas de solvência ou de falta de liquidez têm sempre de se endividar para poder pagar salários.
Existe, no entanto, uma forma de possivelmente atenuar os efeitos menos positivos destas medidas. Helicopter Money refere-se à injeção de capital na economia diretamente nos bolsos dos agentes económicos. Isto aumentaria o dinheiro disponível, e consequentemente, levaria a uma maior procura e mais baixa necessidade de endividamento das empresas. Ben Bernanke chamou-lhe um programa fiscal financiado por dinheiro (2016). A razão por detrás disso é porque podemos pensar em Helicopter Money como uma expansão fiscal. O banco central compraria obrigações do tesouro em open market operations e o estado reduziria impostos na mesma quantia.
Olivier Blanchard (2019), ex-economista chefe do FMI, refere duas formas possíveis de isto acontecer:
Indireta: Obrigações do tesouro seriam emitidas por um estado que seriam posteriormente compradas pelo banco central. A dívida é do governo para com o banco central. O banco central vê um aumento do seu passivo (quantidade de dinheiro) assim como do seu ativo (obrigações do tesouro) ficando o seu net igual;
Direta: Banco central transfere dinheiro diretamente para as famílias. Não existe dívida por parte do governo para com o banco central. Existe um aumento do seu passivo (quantidade de dinheiro) sem que aconteça um aumento do seu ativo, diminuindo então o seu net.
Existem, no entanto, desvantagens em cada um dos cenários. No primeiro, a diminuição da posição líquida de capital do banco central é algo que não é do interesse dos bancos centrais. Fá-los parecer mal geridos e põe em causa a sua independência. Já no método indireto, o governo tem o incentivo de aumentar impostos uma vez que existe um aumento da sua dívida. Dessa forma, os consumidores estariam mais dispostos a gastar esse dinheiro na forma direta.
Depois existem também barreiras à sua implementação. Helicopter Money acaba por ser uma forma de contornar regras de consolidação orçamental e certamente alguns países europeus não estariam muito abertos a que isso acontecesse. Para além disso, questões mais práticas também seriam precisas responder: Quem daria informação das famílias aos bancos centrais? Quem é que recebe essa quantia, cada indivíduo ou o agregado familiar? Precisaria de aprovação em parlamento? O BCE tem a capacidade para o fazer? Todos os países receberiam a mesma quantia?
Também há uns meses, escrevia sobre a possibilidade de se observar Helicopter Money na Zona Euro, referindo que apenas perante uma grande crise seria possível ver esta medida em ação. No entanto, na Europa as decisões políticas demoram o seu tempo a serem tomadas, e uma política desta magnitude seria altamente complicada de ver implementada. No entanto, ela ajudaria certamente a mitigar os efeitos negativos desta pandemia de uma forma mais eficiente do que qualquer outra medida. Infelizmente, a crise chegou e será interessante observar se os conservadores políticos europeus irão abrir mão a um precedente nunca antes visto.