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Petrobras deve ampliar foco no exterior se Brasil barrar Margem Equatorial, dizem fontes

O sinal vermelho do Ibama para a Petrobras PETR3 avançar com perfuração na Margem Equatorial brasileira, considerada uma nova fronteira exploratória de petróleo, deverá levar a companhia a olhar com mais afinco oportunidades no exterior, disseram fontes à Reuters.

Esse movimento deverá ser reforçado caso persista a visão de que o país não deve explorar novas bacias como a Foz do Amazonas e Potiguar, já que a Petrobras vê o petróleo inclusive como a principal fonte de recursos para financiar sua busca pela transição energética e vai começar a lidar no futuro com o declínio da produção de importantes campos do pré-sal.

O "plano A, B e C" da Petrobras ainda é Margem Equatorial, uma extensa área que vai do Rio Grande do Norte ao Amapá, com importante potencial para petróleo, disse uma pessoa próxima às discussões na empresa, que aguarda uma resposta do Ibama sobre um recurso para exploração da Foz do Amazonas, após o órgão ambiental negar um pedido.

A Margem Equatorial é vista como oportunidade única de a Petrobras repor suas reservas de petróleo.

"Com toda essa discussão e com toda a exposição que a Petrobras vem enfrentando na Margem Equatorial, muito provavelmente haverá uma estratégia de potencializar o portfólio internacional", disse a fonte, na condição de anonimato.

A pessoa reiterou que a Petrobras nunca deixou de olhar as oportunidades no exterior, "mas a luz dos pontos que estão sendo elencados, é importante olhar com mais afinco". Isso poderia incluir, inclusive, áreas da Guianas e Suriname, com características semelhantes à Margem Equatorial brasileira.

A Reuters informou anteriormente que a Petrobras avaliava lances em leilão de áreas de petróleo na Guiana inicialmente marcado para abril, mas cujas ofertas das petroleiras interessadas foram adiadas para meados de julho. O país estima ter até 25 bilhões de barris de petróleo e gás em sua costa, próxima da linha do Equador.

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, confirmou em entrevista recente ao jornal O Estado de S.Paulo, que, caso o governo não aprove a exploração em áreas como a Foz do Amazonas, a empresa poderia avaliar como alternativa a possibilidade de voltar a se internacionalizar, incluindo áreas da Guiana e Suriname.

O avanço para fronteiras exploratórias, segundo especialistas ouvidos pela Reuters, se faz necessário após o Brasil tardar em relevar, até o momento, novas grandes descobertas a partir das seis rodadas de partilha de produção do pré-sal, iniciadas há cerca de 10 anos, e que continham as maiores apostas do governo para manter o país como um grande produtor de petróleo por mais tempo no futuro.

A produção brasileira de petróleo somou em março 3,115 milhões de barris por dia (bpd), sendo que 76% de origem em campos do pré-sal, a grande maioria sob operação da Petrobras. A previsão, é que esse volume siga crescendo para tocar um pico de 5,4 milhões de bpd em 2029, antes que comece a declinar, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Procurada, a Petrobras não comentou o assunto.

INVESTIMENTOS

Atualmente, a petroleira já tem ativos exploratórios em Colômbia, Argentina e Bolívia. Mas a maior parte dos seus investimentos previstos está hoje destinada ao Brasil.

No caso da Colômbia, onde estão previstos dois novos poços em 2024, a empresa anunciou em julho do ano passado a maior descoberta de gás do país.

A empresa também planeja continuar atividades já em curso na Bolívia e na Argentina, disse uma fonte.

Em seu atual plano de negócios 2023-2027, que está em revisão, a petroleira prevê 6 bilhões de dólares em exploração, considerando 16 poços na Margem Equatorial, 24 nas Bacias do Sudeste, onde considera um potencial exploratório remanescente, principalmente no pré-sal, além de dois em áreas contratadas na Colômbia.

Embora com um menor número de poços planejados, a Petrobras deseja investir no período quase 3 bilhões de dólares nas atividades exploratórias da Margem Equatorial, com elevado potencial para novas descobertas, porém com enormes desafios socioambientais.

Outros cerca de 2,7 bilhões de dólares estão previstos para o Sudeste, enquanto o restante para outras áreas.

RENOVÁVEL NO EXTERIOR

A nova gestão da Petrobras, que tomou posse neste ano com a eleição do governo Lula, está revisando o plano de negócios da empresa, que manterá seu foco no petróleo, mas também buscará ser uma protagonista no Brasil na transição energética, com uma visão de mais longo prazo.

O novo diretor Executivo de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras, Mauricio Tolmasquim, disse recentemente, inclusive, que o exterior é também uma opção para a petroleira iniciar projetos de transição, como eólicas offshore, em parceria com outras empresas, para ganhar experiência enquanto não há ambiente regulatório no Brasil para isso.

Tal direção representa uma guinada na companhia, que sob a gestão do governo anterior, de Jair Bolsonaro, estava vendendo uma grande quantidade de ativos, também no exterior, para focar em áreas altamente rentáveis do pré-sal, mantendo discussões sobre a transição em grande parte nos departamentos de pesquisa.

Tolmasquim também tem destacado que investimentos em petróleo ainda dão retornos superiores e que serão importantes para financiar a transição energética. Nesse caminho, o executivo ponderou que a empresa buscará elevar a produção de petróleo, mas mantendo suas emissões baixas.

Para que novos projetos de produção sejam agregados no portfólio, atualmente, a empresa exige que ele seja competitivo com o barril do petróleo a 35 dólares e que não opere a intensidade de emissões acima da atual média do "upstream" da Petrobras, que é de 15 kg de CO2/barril, contra uma média global de 18kg de CO2/barril.

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