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PIB do Brasil desacelera mais que o esperado no 3° tri, com alta de 0,4%

O Produto Interno Bruto do Brasil perdeu mais força do que o esperado no terceiro trimestre do ano, mas ainda assim marcou o maior patamar da série histórica, com início em 1996, impulsionado mais uma vez pelo setor de serviços em meio a uma demanda ainda robusta por parte das famílias.

O movimento acontece em meio à expectativa de enfraquecimento do consumo neste final de ano, sob os impactos do aperto monetário promovido pelo Banco Central e a iminência de uma recessão global, cenário que será pano de fundo para o início do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.

O PIB cresceu 0,4% no terceiro trimestre sobre os três meses imediatamente anteriores, informou nesta quinta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), menos do que o 0,7% estimado por economistas, segundo pesquisa da Reuters. Foi a quinta taxa positiva seguida do indicador. (BRGDP=ECI)

Sobre o mesmo período de 2021, a alta foi de 3,6%, um pouco abaixo da expectativa de 3,7%, mas o IBGE também revisou para cima o cálculo do PIB do ano passado. (BRGDPY=ECI)

"O PIB foi um pouco mais baixo no headline, mas a composição foi boa, tirando a questão da agricultura", disse Laiz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas, citando bom desempenho do setor de serviços e, pelo lado da demanda, avanço da formação bruta de capital fixo, uma medida do investimento.

O setor de serviços, que responde por cerca de 70% da economia, cresceu 1,1% sobre o trimestre anterior, enquanto a indústria teve alta de 0,8% e a agropecuária encolheu 0,9% --o que o IBGE atribuiu a quedas na produção de safras relevantes, como da cana-de-açúcar e mandioca.

Nos serviços, os principais destaques foram os setores de informação e comunicação, com alta de 3,6%; atividades financeiras (+1,5%) e atividades imobiliárias (+1,4%).

O comércio, que é considerado um segmento de serviços nas contas do PIB, recuou 0,1%, refletindo, de acordo com a avaliação do IBGE, a realocação do consumo das famílias dos bens para os serviços --movimento contrário ao observado durante a fase mais aguda da pandemia.

Para Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV, os números do terceiro trimestre refletem um contexto de retirada de estímulos, no Brasil e no mundo. "A gente acha que isso sugere uma estagnação no quarto trimestre e um crescimento mais moderado no ano que vem", afirmou.

DEMANDA

Sob a ótica da demanda, os dados do PIB mostram que a formação bruta de capital fixo cresceu expressivos 2,8% sobre o segundo trimestre.

O consumo das famílias e do governo cresceu, respectivamente, 1,0% e 1,3%. A coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, afirmou que fatores como demanda represada, auxílios pagos pelo governo, melhora do mercado de trabalho e um alívio inflacionário contribuíram para a resiliência do consumo das famílias mesmo com a pressão dos juros elevados.

"Só não cresceu mais o PIB por conta do setor externo e por conta do agro", afirmou Palis em entrevista à imprensa.

As trocas comerciais contribuíram negativamente para a atividade, com o aumento de 3,6% das exportações de bens e serviços sendo insuficiente para compensar o salto de 5,8% das importações.

Com a alta no terceiro trimestre, o PIB ficou 4,5% acima do patamar pré-pandemia, no quarto trimestre de 2019, e 1,4% maior do pico anterior, atingido no primeiro trimestre de 2014.

O IBGE também revisou para baixo o crescimento do segundo trimestre --para 1,0%, de 1,2% estimado preliminarmente--, mas elevou o cálculo para o primeiro trimestre --para 1,3%, de 1,1%.

Os dados do PIB de 2021 também foram revistos, revelando um desempenho melhor do que o informado anteriormente. O crescimento em 2021 passou de 4,6% para 5,0%.

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