Que o véu seja retirado: Médias Móveis Clássicas **17 de julho de 2025**
**TEMA: Por que as Médias Móveis Clássicas Como Referência Não Servem – Uma Visão de Mercado**
por Rafael Lagosta.....
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Tem muita coisa nesse mercado que ainda é usada só porque “sempre foi assim”. O gráfico tá lá, limpo, o preço vibrando, e alguém vai lá e enfia uma média de 200 períodos como se tivesse acabado de inventar a pólvora. E aí começa o ritual: “o preço tá acima da média, então a tendência é de alta...”. Só que a realidade não tá nem aí pro que a média diz. O preço não respeita média. O preço respeita interesse. Respeita força. Respeita contexto. E média móvel não enxerga nada disso.
A ideia da média móvel nasceu num tempo onde o mercado era outro. Um tempo onde o delay entre informação e ação era grande. Hoje, isso morreu. O mercado virou frequência, fluxo, intenção em tempo real. A média, seja qual for – 9, 21, 50, 200 – é sempre um resumo aritmético do passado. E o passado, aqui, é peso morto. Porque ele não carrega o que realmente move o preço: intenção.
É isso que precisa ser entendido. O preço não se move por causa do que foi. O preço se move por causa do que está sendo feito agora. Um player grande decide desmontar posição, ou montar uma nova, e pronto. O preço estoura, atravessa tudo, ignora médias, ignora resistências, ignora qualquer coisa que não esteja ancorada no real – no fluxo, na agressão, na defesa. Média móvel? Tá atrasada. Tá mostrando o que foi. E mais: tá servindo de isca.
Porque é isso que virou hoje. Uma isca. Os algoritmos sabem onde a maioria das pessoas coloca suas esperanças. Sabem que na média de 21 no gráfico de 1h vai ter gente entrando, saindo, esperando. E aí o que eles fazem? Vão lá, caçam. Rompem a média com violência, geram gatilhos falsos, botam todo mundo na direção errada, e quando a maioria já estopou ou entrou atrasada, invertem.
Isso não é teoria. Isso é o que acontece diariamente. Quem observa fluxo, tape reading, footprint, já viu isso dezenas, centenas de vezes. Média móvel virou ponto de manipulação. E manipulação começa sempre onde há expectativa previsível. E tem algo mais previsível do que a crença coletiva em uma linha que ninguém sabe nem de onde tiraram?
Pensa comigo: se você roda um backtest com cruzamento de médias, como o famoso 9 com 21, em gráfico de 5 minutos, com stop de 0,5% e alvo de 1%, o que você encontra? Um mar de operações em falso rompimento. Um monte de entradas no exato momento em que o movimento real termina. Porque quando a média te dá o sinal, o jogo já foi jogado. É como querer pular no trampolim depois do salto já ter acontecido.
E o pior de tudo é o conforto psicológico. Porque a média funciona como um cobertor emocional. O trader vê que o preço está acima da 200 e respira aliviado. “Estamos em tendência de alta.” Mas o que ele não vê é que o fluxo está sendo absorvido. Que o volume secou. Que o player grande já saiu e deixou ele sozinho ali. A média sorri pra ele, mas o mercado já foi embora.
Isso me lembra o piloto que dirige olhando só pro retrovisor. Ele sabe onde esteve, mas não vê a curva que vem. E aí é batida na certa. O trader que opera por média está sempre atrás. Sempre esperando uma confirmação que nunca vem no tempo certo. Porque a média não mostra intenção. Ela mostra média. Só isso. Soma e divide. Nada mais.
Existe um fetiche bizarro com a “reversão para a média”. É como se o mercado tivesse um desejo natural de retornar à zona de conforto. Mas o mercado não tem conforto. Ele é movido por desequilíbrio. Ele só volta pra média se não houver força. Se houver força, ele rompe e não volta. Quem espera pullback para entrar pode esperar pra sempre. Ou entrar na hora errada, justamente quando a reversão acontece, não pro centro, mas pro outro extremo.
E aí entra o problema central: média não é ferramenta de antecipação. É ferramenta de leitura histórica. E leitura histórica, num mercado que vive de surpresa e assimetria, é quase inútil. Só serve pra decorar gráfico. Só serve pra justificar erro depois: “entrei porque rompeu a média.” Não, você entrou porque foi condicionado a acreditar que uma linha do passado pode te proteger no presente.
O que protege é leitura de contexto. É saber onde está o dinheiro. É ver onde estão os stops. Onde estão os players grandes. O mercado deixa pista. Sempre deixa. Mas nunca vai colocar a resposta dentro de uma função matemática linear. A resposta está nos padrões humanos, nos gatilhos emocionais, na psicologia coletiva. E a média, por mais que se tente sofisticar – seja com EMA, VWAP, KAMA, seja o que for – nunca vai captar isso.
Agora, olha a matemática fria da média simples. Ela é o somatório dos últimos *n* preços, dividido por *n*. Isso gera uma suavização. Mas também gera defasagem. Quanto maior o período, maior o atraso. A média de 200 é como um idoso tentando correr atrás de um jovem de 20. Só chega quando a festa já acabou. E mesmo as médias adaptativas mais modernas ainda olham pro passado. Só tentam reagir mais rápido. Mas não mudam a natureza da informação: ainda é passada.
No gráfico, o preço é como um corpo em movimento. A média é a trilha que ele deixou. Você quer operar o movimento ou a trilha? Porque se estiver seguindo a trilha, está sempre atrasado. Está sempre tentando entender o que já aconteceu, enquanto o jogo já virou do outro lado. E isso custa dinheiro.
No campo prático, basta abrir o book, ver onde estão as ordens grandes. Ver onde há defesa, onde há agressão. Ver o fluxo de ordens, ver a compressão de candles. O movimento começa sempre ali. A média nem piscou ainda, e o movimento já estourou. E você que operou baseado na média tá vendo o preço ir embora, enquanto espera um sinal que só aparece quando já não tem mais prêmio.
E isso nos leva a uma reflexão maior: por que ainda usamos conceitos tão ultrapassados em um mercado que exige inovação a cada segundo? Talvez porque seja mais fácil se esconder atrás de um indicador do que assumir a responsabilidade de enxergar o real. Talvez porque o trader precise de conforto, e a média oferece isso. Uma ilusão de segurança. Um abraço falso.
Mas o mercado não perdoa ilusão. Ele recompensa ousadia. Recompensa quem vê o que ninguém vê. Quem percebe o deslocamento de liquidez, quem sente a mudança de comportamento, quem entende que o gráfico é só a superfície. O jogo está por baixo. Está no invisível. Está na intenção.
E é aqui que entra o debate que precisa ser feito. O mercado evoluiu. As ferramentas, nem tanto. E nós, como operadores, precisamos fazer escolhas: seguir fórmulas antigas, que nos fazem sentir seguros mas nos deixam pobres, ou enfrentar o vazio da tela limpa, da análise viva, da leitura crua do agora. Porque o agora é tudo. O passado pode ser bonito, mas não paga o boleto.
A média serve pra estudar, não pra operar. Serve pra entender comportamento geral, não pra tomar decisão. Quem ainda opera seguindo cruzamento de média, ou esperando o preço encostar nela pra entrar, está vivendo um mercado que já não existe. E o preço cobra. Cobra com stops, com frustração, com a sensação constante de estar sempre entrando atrasado ou saindo cedo demais.
O caminho é claro: abandonar a bengala. E começar a andar com os próprios olhos. O preço fala. O volume grita. O fluxo desenha. Mas você só ouve se largar os velhos hábitos. Se tiver coragem de ver o que realmente está acontecendo, e não o que uma curva do passado está te mostrando.
É isso. O mercado não é lugar de superstição. É lugar de percepção. De decisão. E de coragem. Quem quiser ficar preso à média, que fique. Quem quiser ver o mercado como ele é, precisa aprender a operar sem ela. Porque média é conforto. Mas o lucro mora no desconforto.
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**Reflexão final para debate**
A questão não é só técnica. É cultural. Por que tanta gente insiste em manter indicadores que claramente não entregam mais vantagem? O que existe por trás disso é um apego à estrutura, ao método, à sensação de estar “certo” mesmo quando se está perdendo. É medo do vazio da tela sem nada. Mas esse vazio é a liberdade. A chance de ver com clareza.
Por isso, o debate precisa ir além da análise técnica. Ele precisa tocar na filosofia do trader. Na coragem de romper com o antigo. Na humildade de admitir que não sabe. E na disposição de ver o mercado como ele é: brutal, veloz, sem perdão. Quem aceitar isso, evolui. Quem não aceitar, segue preso à média. Literalmente.
Vamos que Vamos ..
.... parte 2
Lagostasecret
RCSL4 — Recrusul SA: O começo de uma jornada promissora04 de julho de 2025
Rafael Lagosta aqui, direto na veia para destrinchar a história por trás de RCSL4, papel que peguei a 0,96 com o olhar atento de quem sabe que o mercado fala nas entrelinhas.
Recrusul é uma empresa que carrega o Brasil nas costas. Fabrica carrocerias de caminhões, containers refrigerados, implementos rodoviários — um setor que vive do suor da logística e do agronegócio, duas engrenagens que não param nem com tempestade. Só isso já cria um pano de fundo robusto para o papel.
Mas o que interessa é o jogo que o preço conta. Por muito tempo, RCSL4 ficou escondido, quieto, quase esquecido. Nessa calmaria, quem teve olhos viu uma base firme se formar por volta de 0,90. Quando o papel tocou 0,96, para mim, era sinal claro: a maré começava a virar.
O mercado é um animal de hábitos. Para correr, ele precisa romper as amarras, e o preço 1,08 é essa corda que prende o bicho. Ultrapassar essa marca não é só um número no gráfico, é o momento em que o mercado ganha fôlego e acelera — o ganso sai voando e não para até o próximo pouso.
Os alvos intermediários de 1,54 e 1,78 são esses pousos estratégicos onde o mercado respira, confere a paisagem e decide se vale continuar a subida. A minha leitura? Se o mercado mostrar força aqui, o caminho até 2,92 abre-se claro, como estrada asfaltada em dia de sol.
Chegar a 2,92 não é utopia, é consequência natural de um cenário onde a empresa mantém seus resultados, o agronegócio não dá trancos, e a logística brasileira segue demandando equipamentos. É a soma do que já vem acontecendo com a esperança de que o jogo continue a nosso favor.
Não tem atalho. O mercado é pedra e vento, às vezes tropeça. Mas entrar em 0,96, com os olhos no 2,92, é enxergar além da poeira, é entender que um passo atrás muitas vezes é só o impulso para o salto.
Essa é a narrativa que gosto de contar: um ativo subestimado, que começa a despertar, com o mercado preparando o terreno para uma corrida que promete. Aguardemos os sinais — o rompimento do 1,08 será o grito da largada.
— Lagosta
" Eu Entendi que o Medo do Crédito é o Medo de Ficar pobre"Rio de Janeiro, 1º de Junho de 2025
Hoje, encarando aquele gráfico colossal, uma verdade me atravessou como um raio. Uma revelação tão brutal que parecia que as engrenagens do sistema se escancaravam diante dos meus olhos.
Eu sou um homem comum. Aposentado. Pai de família. Vivi décadas sendo doutrinado a fugir do crédito como quem foge da peste. Me ensinaram que dívida era armadilha, que era sinônimo de ruína, que homem sério não deve, que segurança é viver debaixo das próprias economias, apertando, economizando, se encolhendo.
Mas naquele instante tudo isso ruiu.
A ficha caiu com a força de um terremoto. O dinheiro está morrendo. Está apodrecendo nas mãos de quem guarda. Está sendo trucidado, triturado, corroído por um sistema que opera na mais absoluta matemática da destruição silenciosa. Um sistema que se alimenta da ignorância financeira das massas.
E então, olhando aquele gráfico que sobe como uma lâmina, percebi a pergunta que nunca me deixaram fazer: e se o jogo nunca foi sobre evitar dívida? E se, na verdade, o jogo sempre foi sobre saber usar a dívida?
A resposta não deixou espaço pra dúvidas. Se eu quisesse me proteger, se eu quisesse garantir o meu futuro, o caminho era claro: pegar o maior crédito possível, desde que ele fosse inteligente, barato, de longo prazo. Mas não pra consumir, não pra sustentar um padrão vazio, não pra comprar passivos que drenam energia.
O movimento é outro. Converter esse crédito imediatamente em ativos que estão fora do alcance do Leviatã. Ativos que o governo não consegue imprimir. Que o sistema não consegue sabotar. Terra, energia, dólar, ouro, empresas, fluxos recorrentes, tokenização de riqueza real, criptoativos sérios, estruturas blindadas, contratos que geram renda, patrimônio que vive além do papel moeda.
Foi nesse dia que compreendi que o sistema é uma máquina precisa, cruel e silenciosa, desenhada para triturar quem insiste em jogar um jogo que já não existe mais.
O medo do crédito, que me ensinaram desde pequeno, é na verdade o medo de enfrentar a verdade nua: quem não entende o jogo, paga a conta. O aposentado que foge do crédito, que se agarra ao dinheiro, não percebe que está agarrado a um navio que afunda.
O velho mundo morreu. Acabou. Enterraram sem aviso. O dinheiro como segurança virou areia escorrendo entre os dedos.
O jogo virou. E agora é cada um por si, entendendo, reagindo, se posicionando. Porque quem não entender isso a tempo, vai pagar — com suor, com patrimônio, com a própria dignidade financeira — o preço da própria ignorância.
O que esse gráfico revela é de uma contundência cirúrgica. A curva dos empréstimos ao setor privado no Brasil — BRLPS — deixou para trás qualquer parâmetro de normalidade. O que antes parecia uma expansão alinhada ao crescimento econômico desabrochou numa escalada que rompe qualquer lógica prudencial. A linha azul dispara, configurando um ciclo de crédito que não apenas se recupera do tombo de 2015 a 2019, mas ultrapassa o topo anterior com força bruta, avançando sem resistência até o patamar de 937,2 bilhões, um crescimento de 453,52%.
A geometria do gráfico não mente. A retração ocorrida entre 2016 e 2019 deixa claro que existe uma fronteira macroestrutural para a expansão do crédito, e ela foi rompida. O comportamento parabólico recente projeta, sem rodeios, uma pressão inevitável sobre a própria estrutura do sistema bancário, da liquidez soberana e, principalmente, da solvência das famílias e empresas. Esse padrão é a antessala de algum tipo de disrupção — ou monetária, ou fiscal, ou regulatória.
O nível atual, 943 bilhões, encosta perigosamente no limite superior da extensão dos ciclos anteriores, e quando eu cruzo isso com o contexto que estou enxergando — juros elevados, inflação estruturalmente teimosa, uma economia global pressionada pela desglobalização, tensões geopolíticas e o avanço das moedas digitais soberanas — fica evidente que estou na borda de um portal macroeconômico.
Não há espaço para ilusão. Este gráfico que estou olhando é o retrato de um sistema que está rodando à base de expansão de crédito, e não de crescimento real de produtividade. Esse comportamento geralmente antecede movimentos de ajuste. A geometria das linhas de Fibonacci que tracei escancara zonas críticas. Os patamares de 795 bi e 716 bi são suportes ocultos de ciclo — se perder, aciona a regressão pesada. A faixa de 556 bi seria um colapso formal do ciclo atual.
Por outro lado, se a matriz política, fiscal e monetária aceitar inflacionar permanentemente — como vejo claramente que Estados Unidos e Europa estão flertando — o rompimento do topo pode catapultar o crédito para a linha de expansão de 1,18 trilhão, um patamar que só se sustenta com inflação de dois dígitos ou ancoragem forçada em moedas digitais controladas, as CBDCs.
O detalhe oculto e sutil aqui é que essa explosão de crédito não ocorre sozinha. Está acoplada a outro fenômeno que salta aos meus olhos — a aceleração do processo de tokenização de ativos, a financeirização extrema da dívida pública e privada e a manipulação direta dos ciclos de liquidez por inteligência algorítmica e bancos centrais. O gráfico me mostra o lado visível da Matrix, mas o lado invisível — a engenharia financeira oculta — já está operando a pleno vapor.
Portanto, eu não estou olhando para um gráfico de empréstimos. Estou olhando para um mapa do colapso do velho modelo monetário. E, ao mesmo tempo, um mapa de oportunidade brutal. Porque quando o crédito explode, ou eu estou na ponta que recebe os fluxos, ou na ponta que é triturada por eles.
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Queria Agradecer aos meus pais que são símbolos da massa "babyboomers" e ao @MarceloTorres , mesmo ele sem saber me inspirou a estudar esse gráfico e concluiu um estudo meu de pelo menos 5 anos de angustia.. eu via algo, mas não tinha encontrado a prova... obrigado mesmo irmão!
Um grande Abraço Rafael Lagosta Diniz
Nós contra eles.. ou.... Nós com Eles...O que será?**15 de maio de 2025**
**Título: O Mercado, os Algoritmos e a Ilusão do Controle**
**Por: Rafael Lagosta**
O mercado financeiro é, antes de tudo, um organismo vivo. Alimentado por expectativas, dúvidas, certezas temporárias e apostas contrárias. Sempre foi — e sempre será — o campo de batalha entre a parte e a contraparte. É nesse choque de visões e convicções que nasce o preço. Se todos pensassem igual, o mercado deixaria de existir, como um motor que trava por excesso de combustão simultânea. A engrenagem precisa de rotação, e a rotação vem do conflito. O que muda com os tempos modernos é a velocidade da rotação, e essa aceleração tem nome: algoritmos.
Quando se fala de automatização e inteligência artificial no mercado, muitos ainda acham que se está falando de substituir o ser humano, de entregar o volante a um carro sem motorista. Mas não é isso. É muito mais como instalar um sistema de navegação de última geração em um carro esportivo. A direção continua sendo da pessoa — mas agora ela tem mapas atualizados em tempo real, sensores que avisam dos obstáculos e dados de tráfego na palma da mão. Os algoritmos entram como o copiloto hiperinteligente que não cansa, não pisca, não dorme e não hesita. Eles filtram, organizam, priorizam e reagem a estímulos de forma mais rápida do que qualquer ser humano. Mas não pensam. Não criam teses. Não duvidam. Não questionam.
Essa distinção é crucial. Porque o que move o mercado não é só a execução — é a expectativa. A antecipação. A crença no que virá. E isso, por mais dados que se possua, ainda é, e sempre será, território humano. O algoritmo pode te dizer que há uma anomalia no book, mas não consegue te dizer o que isso representa no contexto psicológico de um mercado que acabou de sofrer uma perda traumática com um evento político inesperado. Ele pode indicar que o volume aumentou 500% em uma ponta, mas não tem a vivência para entender o que esse volume representa em um momento de aversão global ao risco. A sensibilidade não é código. É história acumulada. É leitura de tempo e espaço. É feeling — palavra que nenhum robô vai compreender por completo.
A ilusão que alguns carregam é a de que a automação levará o mercado à eficiência plena, onde tudo será previsível, tudo será matemático, tudo será algoritmizado. Mas o próprio conceito de eficiência de mercado pressupõe que as informações sejam absorvidas instantaneamente por todos os agentes — e isso nunca acontecerá enquanto o ser humano for parte desse ecossistema. Porque informação não é apenas um dado lido. É um dado interpretado. E interpretação é um ato de fé, de cultura, de contexto, de linguagem.
Os algoritmos de alta frequência, por exemplo, são fantásticos para capturar micro-ineficiências. Arbitragem de centavos, variações imperceptíveis, reações instantâneas a notícias. Mas quando a questão é macro, quando o buraco é mais embaixo — como prever se uma eleição vai gerar fuga de capital ou se uma guerra vai reprecificar o petróleo — o mercado volta para o território das ideias. A máquina sabe operar, mas não sabe antecipar o medo. Não sabe captar o cheiro do pânico. E é aí que o humano volta a reinar.
A beleza da coisa está justamente na convivência imperfeita. Não vai haver apagamento da humanidade no mercado. Vai haver hibridização. O que estamos construindo é um modelo onde a frieza do código encontra a intuição do trader. Onde a matemática do sistema conversa com a subjetividade da análise. O trader que entender isso vai prosperar. O que quiser ser substituído por uma máquina, será. Não por crueldade, mas por lógica. A máquina ganha no terreno da repetição, da velocidade, da consistência. Mas perde feio no campo do imprevisível, da virada de chave, do sentimento coletivo.
E mesmo no mundo dos algoritmos, não há homogeneidade. Cada fundo, cada banco, cada player programa seus robôs com lógicas distintas. Uns são agressivos, outros defensivos. Uns priorizam volume, outros priorizam momentum. Isso mantém a pluralidade viva. Porque no fim do dia, mesmo que os códigos sejam frios, quem os escreve são pessoas com filosofias diferentes. A divergência permanece. E onde há divergência, há mercado. A utopia de um mercado onde todo mundo acerta é o caminho mais curto para a paralisia. Acerto unânime é sinônimo de ausência de risco. E sem risco, não há prêmio. E sem prêmio, não há jogo.
O papel do humano, portanto, se desloca. Ele deixa de ser executor e passa a ser estrategista. Deixa de ser o piloto que gira o volante e passa a ser o comandante que desenha a rota. A leitura de ciclo, a análise de contexto, o estudo dos sinais fracos, tudo isso continua nas mãos de quem vive, sente e enxerga o mercado como um organismo complexo e em mutação constante. É na união entre máquina e mente que mora o futuro do mercado — não na substituição de um pelo outro.
Não haverá um dia em que todos vão operar iguais. Porque mesmo que todos tenham acesso aos mesmos dados, a forma como os processam ainda será diferente. A leitura emocional, a bagagem cultural, o timing de entrada e saída, tudo isso continuará variando. E é essa variação que sustenta a dinâmica essencial do mercado. Algoritmos aceleram, mas não substituem. Potencializam, mas não criam do zero. Eles são próteses sofisticadas, mas o cérebro segue no controle.
Portanto, a pergunta não é se o mercado será automatizado, mas sim quem saberá usar essa automação como alavanca e não como muleta. Quem entender que o algoritmo é ferramenta e não guru. Quem conseguir unir o mundo da lógica com o da intuição. O mercado do futuro será híbrido, sim. Mas nunca será estático. Porque enquanto houver diferença de opinião, haverá parte e contraparte. E enquanto houver isso, haverá jogo. E onde houver jogo, haverá oportunidade para quem souber ver o que a máquina ainda não consegue.